quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Entrevista a José Luís Peixoto - “Manifesto contra a Crise – Compromisso com a Ciência, a Cultura e as Artes em Portugal” .


O escritor José Luís Peixoto é um dos subscritores do “Manifesto contra a Crise – Compromisso com a Ciência, a Cultura e as Artes em Portugal”.


Apoiado por 131 intelectuais, o documento defende a criação de condições para que os talentos se fixem em Portugal, ou então no estrangeiro, mas ao serviço do seu país. 
Nesta entrevista conduzida pelo jornalista Nuno Rodrigues, José Luís Peixoto afirma que a área do saber é sempre castigada num contexto de crise e dificuldades generalizadas.


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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O Museu de Arte Antiga tem mais um Menino Jesus feminino e encantador de Josefa de Óbidos.


Não é difícil imaginá-la no seu universo feminino, fora da oficina, rodeada de crianças que não eram suas, talvez na cozinha, a fazer bolos ou a escolher os frutos e flores que mais tarde haveria de pintar. Não é difícil imaginar alguém a chamar-lhe tia Josefa, diz Anísio Franco, conservador do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), frente à obra que acaba de ser exposta. É um Menino Jesus Peregrino que Josefa de Óbidos terá pintado já no auge da sua carreira — invulgar para uma mulher do século XVII —, nas décadas de 1660 ou 70, que reúne uma série de traços característicos da sua obra, femininos.
A incorporação deste Menino Jesus no acervo que já inclui 15 pinturas da artista que nasceu em Sevilha e escolheu fixar-se em Óbidos vai permitir ao museu “mostrar mais uma tipologia que, não sendo única em Josefa de Óbidos, não estava ainda presente na colecção do MNAA”, explica Anísio Franco, um dos conservadores.
Quem percorre hoje este museu de Lisboa encontra duas das naturezas-mortas que a tornaram tão popular (Com Taça de Cristal e Com Caixas e Potes), um Menino Jesus Salvador do Mundo, uma Adoração dos Pastores e um Casamento Místico de Santa Catarina em ambiente doméstico, com a Virgem sobre um estrado, com um cesto de costura aos pés. Estas obras chegaram à colecção da Rua das Janelas Verdes em vários momentos e algumas pertenceram aos reis D. Fernando e D. Luís. Nas futuras galerias de pintura e escultura portuguesa, que deverão ser inauguradas no terceiro piso, no final de 2014, voltarão a estar expostas, ao lado do novo Menino Jesus, que está hoje no MNAA graças a um depósito, por dois anos (renovável), segundo o vice-director, José Alberto Seabra Carvalho.
A obra, que foi a leilão em Setembro do ano passado sem que fosse vendida, pertence à família Roque de Pinho Patrício, que pouco depois decidiu propor ao museu que a expusesse, o que, dada à sua qualidade, foi aceite.
As tentativas para deixar obras em depósito no museu são muitas, mas são poucas as que se concretizam. A explicação, diz Anísio Franco, é simples: “As pessoas vêm, de boa vontade, confiar ao museu aquilo que acham ser um tesouro, mas o que acontece na maioria das vezes é que as obras só são tesouros num contexto familiar.”
“O Menino está sozinho, com o bordão e a cabaça dos peregrinos de Santiago, e parece, à primeira vista, muito inocente. Mas, quando começamos a reparar nos detalhes da roupa, que são muitos, percebemos que esta criança sabe exactamente o que lhe vai acontecer.”
Anísio Franco, conservador do Museu Nacional de Ar
Entre 2005 e 2012 — os dados mais recentes —, o MNAA recebeu cinco depósitos de pintura ou mobiliário de particulares, como o Retrato de Jácome Ratton (século XIX), de Thomas Lawrence, que pertence à Fundação Calouste Gulbenkian. Mas as doações e os legados no mesmo período atingem os “milhares” de peças. Só a colecção Francisco Castro Pina, que chegou em 2011, tem mais de três mil, com destaque para ourivesaria, têxteis e cerâmica portuguesa e oriental. Por que razão fazem doações e não deixam em depósito?
“Não temos essa tradição. E acho que também há o receio, por parte dos donos, de que o Estado classifique os bens e que isso dificulte a sua transacção futura.” Um receio que, garante o conservador do museu, não se justifica em casos como este: “Uma Josefa de Óbidos, um Malhoa ou um Columbano têm é valor cá. Fora do nosso mercado dizem muito pouco aos coleccionadores.”

Um Menino Jesus ibérico.

No caso deste Menino Jesus Peregrino, justificava-se “em pleno” a integração no acervo, quer pela temática, quer pelo rigor da execução. Presente em todas as exposições importantes que foram dedicadas a Josefa de Óbidos, dos anos 1940 até à de 1991, “a mais completa e com reatribuições”, esta pintura reflecte uma “tradição iconográfica muito ibérica”. Um iberismo que Anísio Franco justifica com o facto de este Jesus ainda criança estar representado com uma série de símbolos que por hábito são associados aos peregrinos a Santiago de Compostela, na Galiza. “O Menino está sozinho, com o bordão e a cabaça dos peregrinos de Santiago, e parece, à primeira vista, muito inocente. Mas, quando começamos a reparar nos detalhes da roupa, que são muitos, percebemos que esta criança sabe exactamente o que lhe vai acontecer.”
O conservador refere-se aos símbolos da Paixão de Cristo que estão bordados na gola da capa — os dados associados à traição, a lança que o matou ou a esponja embebida em vinagre de onde terá bebido — e presentes em alguns dos adereços que usa, como o pano de Verónica (véu com que Jesus limpa o rosto a caminho da crucificação), o chapéu com a coroa de espinhos e um medalhão em que está inscrito INRI (acrónimo em latim para “Jesus de Nazaré Rei dos Judeus”, que viria a ser usado na placa que encima a cruz do calvário).
Tudo isto pintado, acrescenta o especialista do MNAA, com “o característico toque feminino da Josefa de Óbidos”. E em que é que consiste esse “toque feminino”? Numa atenção aos pormenores muito particular, nas margaridas que coloca aos pés deste Menino de longos cabelos loiros aos caracóis, de grandes rosáceas e “olhos meigos”, explica. É tudo feito com muito cuidado no tratamento da luz e dos panejamentos, diz Anísio Franco, falando da “singularidade” da artista no contexto da pintura que se fazia em Portugal. “O professor Manuel do Rio-Carvalho [historiador de arte] dizia que a Josefa pintava meninos como quem pintava bolinhos [que tantas vezes aparecem nas suas naturezas-mortas] e bolinhos como quem pintava meninos” — tudo muito minucioso e com “grande doçura”: "As suas pinturas são, efectivamente, encantadoras."

Uma mulher singular.

Na época, e apesar de uma clientela fiel, ainda que “restrita e muito regional”, esta artista que se formara na oficina do pai, o pintor Baltazar Gomes Figueira, não tinha a mesma projecção de outros colegas de profissão e havia até quem a acusasse de erros de perspectiva elementares. Anísio Franco lembra que não era comum no antigo regime uma mulher solteira, sem descendência directa e, ainda por cima, capaz de se sustentar. “Isso devia incomodar muita gente.”
Justas ou não as críticas, certo é que a pintora conquistou um lugar na cultura portuguesa, sendo muito popular no seu tempo, mas também no século XIX, quando o mercado da arte nacional começou a funcionar. Primeiro, explica o conservador, começou por ajudar o pai nas grandes encomendas de Coimbra — ainda hoje é discutível a autoria de algumas das obras por causa dessa proximidade — e por trabalhar para uma certa “corte de Aldeia” (à volta de Óbidos há muitas obras dispersas); séculos depois, “todas as boas famílias queriam ter uma natureza-morta da Josefa na sala de jantar”...
A questão da autoria à volta de Josefa de Óbidos e de Gomes Figueira tem sido muito trabalhada por Vítor Serrão, historiador de arte que tem estudado a obra dos dois pintores. “É claro que gostávamos de saber muito mais sobre ela, mas isso pode passar, como defende Vítor Serrão, por saber mais sobre o pai.”
Josefa nasceu em Sevilha quando Baltazar Gomes Figueira lá trabalhava, foi apadrinhada por um importante pintor espanhol da época, Francisco Herrera, e começou por copiar os modelos que encontrava na oficina do pai, alguns de Francisco de Zurbarán, que ele terá chegado a conhecer. “Ela aprende em segunda mão, é verdade, mas não é em nada menor do que o pai”, defende o conservador do MNAA. “Podemos dizer que Baltazar Gomes Figueira tinha outro mundo, outra relação com os modelos, eventualmente mais informada, mas Josefa soube desenvolver a sua própria maneira de pintar.”
Obras como o Menino Jesus Peregrino ou a Sagrada Família (1664), que pertencia ao Convento de Santa Cruz do Buçaco e que ardeu na última noite de Consoada, eram encomendas recorrentes. Destinavam-se a uma “devoção doméstica, na intimidade”, embora a primeira exiba claras marcas de luxo e a segunda seja muito mais contida, como convém a uma pintura destinada à casa religiosa de uma ordem que professa a pobreza (no caso, a dos monges carmelitas descalços). Outra das diferenças, sublinha Anísio Franco, é o facto de a pintura agora no MNAA não ter sido sujeita a intervenções de restauro de fundo, ao contrário da que foi completamente destruída no convento: “O requinte nos efeitos lumínicos é absolutamente evidente, porque neste Menino Jesus a pintura está toda cá, o que já não se passava com a do Buçaco, muito intervencionada. Isto não quer dizer, no entanto, que a perda daquela Sagrada Família não seja um desastre patrimonial.”
A investigação sobre as causas que levaram ao incêndio no convento de 24 para 25 de Dezembro estão ainda a decorrer, disse nesta quarta-feira ao PÚBLICO o presidente da Fundação Mata do Buçaco, responsável pelo edifício, sendo agora da responsabilidade do Ministério Público.

As obras para corrigir as infiltrações na cobertura que terão estado na origem do curto-circuito que levou ao desaparecimento da pintura ainda não começaram, porque os técnicos estão a estudar ainda o que fazer, acrescentou Fernando Correia: “Todas as diligências estão em curso mas, antes de qualquer intervenção, é preciso ouvir os especialistas em património. É o que estamos a fazer." (Jornal Público)

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O primeiro livro de BD de Paulo Monteiro ganhou prémio em França.


“Olá ! 'O Amor Infinito que te tenho' ganhou o Prix Sheriff D'Or 2013, em França !!! Estou muito feliz !!! Um abraço a todos !!!”. Estas foram as palavras que Paulo Monteiro escreveu na segunda-feira na sua página de Facebookapós ter ganho o Prix Sheriff D’Or. O prémio foi atribuído pela livraria Espirit BD, de Clermont-Ferrand.
Este é o primeiro livro de banda desenhada do autor e escusado será dizer que ficou radiante, porque isso é mais do que perceptível pelo que escreveu.
Lançado em 2011 em Portugal pela editora Polvo, O Amor Infinito que te Tenho e Outras Histórias fala do amor sob diferentes perspectivas, em 10 histórias criadas entre 2005 e 2010. Logo no ano de lançamento, o livro arrecadou os prémios de Melhor Álbum Português no Festival de Banda Desenhada Amadora e de Melhor Publicação Independente da nona edição dos Troféus Central Comics.
Editado em França em Junho, pela editora 6 Pieds Sous Terre, O Amor Infinito que te Tenho e Outras Histórias teve críticas positivas em publicações como o Le Monde e a revista Les Inrocks.
Em declarações à Lusa, o autor de 46 anos, natural de Vila Nova de Gaia e que vive em Beja, explica que já tinha ficado contente com a nomeação pela imensidão que é o mercado francês de BD e acrescenta que estes prémios são seguidos “com muito interesse na imprensa francesa e pelos leitores”, sendo um trampolim para chegar a mais pessoas. Paulo Monteiro, que é também director da Bedeteca de Beja e do Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, confessou ainda numa entrevista à rádio regional Voz da Planície que ficou “incrédulo” por o prémio ter sido atribuído num país onde são editadas por ano mais de 7000 obras de BD.
De acordo com o autor, o livro tem lançamento agendado noutros países e a internacionalização só foi possível através de contactos feitos pelo autor, pela editora e pelo “passa a palavra” após a edição francesa.
Paulo Monteiro deve acabar no próximo mês o seu segundo livro, que será editado em 2016. O tema também vai abordar assuntos do coração, uma vez que conta a história de um “um homem que perde o pouco que tem face a uma paixão não recíproca”, explicou o autor ao PÚBLICO recentemente.
Para já o autor foi convidado a estar presente no maior festival do mundo nesta área - Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême –, entre 30 de Janeiro e 2 de Fevereiro, onde vai assinar livros.
O Amor Infinito que te Tenho e Outras Histórias está ainda nomeado para mais dois prémios franceses, o Prix Bulles de Cristal 2014, criado pela livraria Ange Bleu, e o Prix Lycéen de la Bd Midi-Pyrénées 2014, indicado pelos estudantes das escolas da região dos Pirinéus. Os vencedores em ambos os prémios vão ser conhecidos em Março. (Jornal Público)

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Um canguru pode provar que foram os portugueses a descobrir a Austrália?.


Livro de orações do século XVI que mostra um pequeno canguru desenhado levanta a hipótese de os navegadores portugueses terem chegado à Austrália antes de 1606, ano da descoberta holandesa.
O manuscrito português, que terá sido feito entre 1580 e 1620, mostra aquilo que parece ser um pequeno canguru numa das suas letras. Se for mesmo uma representação com 400 anos deste mamífero marsupial, o desenho sugere, escreve o diário britânico The Telegraph, que os exploradores portugueses chegaram à Austrália antes de Willem Janszoon, o navegador holandês a quem se atribui a descoberta, em 1606.
O documento, que foi comprado recentemente pela galeria Les Enluminures, de Nova Iorque, que o avalia em 11 mil euros, a um negociante de livros antigos em Portugal, é um volume de orações, em tamanho de bolso, que pertencia a uma freira e inclui, na página em que o canguru aparece, a partitura de uma procissão litúrgica. Esta religiosa chamava-se, muito provavelmente, Catarina de Carvalho e vivia num convento nas Caldas da Rainha.
Para Laura Light, investigadora da galeria, não há dúvidas da importância desta representação no que toca à reescrita da história. “O canguru num manuscrito tão antigo prova que o seu autor ou esteve na Austrália ou, ainda mais interessante, que relatos de viajantes e desenhos dos curiosos animais que podiam encontra-se neste novo mundo estavam já disponíveis em Portugal”, disse ao australiano The Age.
Martin Woods, citado pelo mesmo jornal, é bem menos entusiasta. Para o conservador de mapas da biblioteca nacional australiana “pode tratar-se de outro animal do sudeste asiático, de uma das diversas espécies de veados que se apoiam nas patas traseiras para se alimentarem em ramos mais altos”. O desenho por si só não chega, diz, para reescrever a história. “Se estamos a desenhar um canguru uma das primeiras coisas que fazemos é a cauda”, que a ilustração em causa não tem, lembra ao diário britânico The Guardian. É claro que, sendo desenhado dentro de um “D” se pode argumentar que a cauda está escondida, reconhece Woods, acrescentando, no entanto, que seria natural que estivesse entrelaçada na letra.
“Creio que tudo isto é muito entusiasmante para quem já acredita que foram os portugueses a descobrir a Austrália mas, para quem não acredita nisso, este manuscrito não é assim tão estimulante”, conclui o especialista em mapas.
Outros investigadores, escreve o Telegraph, defendem que o manuscrito pode ter sido feito logo após a descoberta de Janszoon ou ser produto de uma viagem portuguesa à Papua Nova Guiné. Entre eles está John Gascoigne, membro da Academia Australiana de Humanidades, para quem será preciso muito mais do que um desenho num livro de orações para provar que foram os portugueses os primeiros a chegar. A tarefa é difícil, salienta ao Age, porque neste período a coroa de Lisboa era extremamente sigilosa em relação às suas rotas marítimas – pormenor que Laura Light, da galeria nova-iorquina também sublinha, mas para sustentar a tese contrária – e porque muitos dos documentos que poderiam estar relacionados com esta descoberta terão sido destruídos no terramoto de 1755.
Além disso, diz Gascoigne , “o intervalo possível de criação do documento vai até 1620, o que acomoda a data da chegada de Willem Janszoon e do seu Duyfken ao norte da Austrália”. Também ele acredita que o desenho pode ter decorrido da viagem à Papua, em 1526.
Ainda que a descoberta holandesa esteja registada como a oficial, há já anos que os historiadores levantam a possibilidade de outros navegadores da Europa ocidental terem aportado à Austrália muito antes, com base em documentos variados, incluindo cartografia.
Lembra Light que algumas das “provas” mais recorrentes são precisamente mapas da década de 40 do século XVI, oferecidos ao rei Henrique VIII de Inglaterra, que mostram uma grande massa de terra abaixo da Indonésia e da Papua Nova Guiné.
Peter Trickett, recorda o jornal australiano The Sydney Morning Herald, historiador e autor do popular Além de Capricórnio (editado em Portugal pela Caderno, em 2007), é um dos que alega que foram os navegadores portugueses os primeiros a mapear a costa australiana, em 1521-22, muito antes dos holandeses. É por isso que o académico diz que “não é nada surpreendente que a imagem de um canguru tenha aparecido em Portugal no final do século XVI”.

No mesmo livro de orações surgem ainda dois desenhos, também dentro de letras, que representam figuras masculinas em trajes tribais, com o tronco nu e adornos de penas na cabeça. Laura Light acredita que são aborígenes. (Jornal Público - 16.01.2014)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Fotógrafo António Pedrosa vence Hasselblad Masters 2014.


Uma reportagem de António Pedrosa sobre uma comunidade cigana do "bairro do Iraque", na vila transmontana de Carrazeda de Ansiães, em Trás-os-Montes, venceu o Prémio Hasselblad Masters 2014, promovido pela marca sueca de máquinas fotográficas. O trabalho do português, que já em 2012 tinha vencido o Prémio de Fotojornalismo 2012 Estação Imagem/Mora, foi premiado na categoria Editorial.
Em Carrazeda de Ansiães, Bragança, há uma comunidade cigana que vive no topo de um monte há uma dezena de anos, depois de ter sido expulsa docentro da vila. Aos ciganos, António Pedrosa chamou-lhes "iraquianos" e começou em Janeiro de 2011 a contar as suas histórias através de fotografias.
Entre barracas de chapas de zinco e paredes riscadas, com poucas condições e sem quaisquer privilégios, vivem mais de dez famílias ciganas em Carrazeda de Ansiães. O bairro chama-se "Iraque", por estar situado numa antiga mina, e o isolamento para o qual foram atirados é retratado nas imagens de António Pedrosa, que agora foram premiadas na categoria Editorial, de um total de 12 áreas como a Paisagem, o Retrato, a Arquitectura, a Vida Selvagem ou o Subaquático.
O Hasselblad Masters é um concurso internacional que acontece a cada dois anos. A edição deste ano foi, segundo o comunicado do prémio, a mais concorrida de sempre, tenho sido submetidas quase quatro mil candidaturas. Em 2012, foram 2500. “O padrão esteve extraordinariamente elevado este ano, e os vencedores de cada categoria podem estar verdadeiramente orgulhosos pelo que conseguiram”, destacou no comunicado Paul Waterworth, porta-voz da Hasselblad.
Depois de um processo inicial em que o público foi convidado a votar, os 12 vencedores, cujo trabalho pode ser visto aqui, foram escolhidos por um júri constituído por alguns dos antigos premiados e outros fotógrafos de renome como Steve McCurry ou Gerry O'Leary.
Aos vencedores será agora emprestado material da Hasselblad para que possam desenvolver um novo trabalho que entrará no livro comemorativo do Hasselblad Masters. Além disso, e do troféu que vão receber, todas as imagens premiadas serão publicadas no site da Hasselblad e integrarão várias exposições em todo o mundo.
Quando em 2012, António Pedrosa venceu o maior prémio de fotojornalismo em Portugal, o fotógrafo contou ao PÚBLICO que o trabalho no "bairro do Iraque nunca está acabado. "Não é um projecto que se esgote numa semana ou num período curto", disse então o fotógrafo, explicando que a comunidade cigana nunca lhe foi estranha, por ser natural de uma aldeia perto daquela vila. Hoje já é "da casa". "Sempre que vou a Carrazeda, vou ao 'Iraque'", lembrou, explicando que o projecto surgiu como uma espécie de fuga ao trabalho diário de fotojornalismo.

O júri do Prémio de Fotojornalismo 2012 Estação Imagem/Mora destacou na altura a forma como as fotografias de António Pedrosa contam a história daquela comunidade, “com forte dramatismo”, tornando-a “muito fácil de entender”. (Jornal Público)

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Criada primeira capa de livro numa impressora 3D.


A mais recente obra de Chang-Rae Lee, On Such a Full Sea, deixou de lado a ideia tradicional de livro para entrar na era tridimensional, com uma edição especial limitada onde as caixas dos livros são em relevo e produzidas com impressoras 3D.
De acordo com a revista Time, a versão limitada do livro - com 200 exemplares -, estará disponível hoje, dia 7 de janeiro. ARiverhead Books, a editora, denomina-a já como "a primeira capa removível de sempre impressa em 3D".
A capa resulta de uma colaboração da editora com os peritos em impressão tridimensional da Makerbot que produziram com impressoras 3D uma caixa branca com as letras do título da obra salientes, onde o livro encaixa quando arrumado. À mesma fonte, a diretora de arte da Riverhead Books, Helen Yentus, afirmou que nem pensou ser capaz de o fazer, devido à tecnologia ser tão recente e inovadora. Mesmo assim, o objetivo principal parece ter sido cumprido: o resultado foi algo diferente de tudo o já visto no mundo da publicação.
Cada uma destas caixas levou 15 horas a ser fabricada, sendo que alguns protótipos chegaram às 30 horas. Helen Yentus édesigner de capas há mais de 10 anos e para esta capa particular teve de se familiarizar com o tipo de impressão e a tecnologia a si aliada. O esforço não se devia apenas à criação de uma capa irreverente, mas também à necessidade de esta combinar com o conteúdo futurista do livro de Lee, autor nascido na Coreia do Sul mas naturalizado norte-americano.
Reconhecendo as dificuldades que a literatura impressa atravessa, o autor Chang-Rae Lee afirmou em comunicado que esta caixa"reintroduz a ideia de livro como um objeto de arte".

Já Helen Yentus acreditava que os livros em versão física estarão perto do fim, pois os preços são forçosamente mais, e mais, baixos. Estas edições especiais são para ela uma possível salvação. "Com estas edições especiais, não posso garantir a 100%, mas acho que estamos a criar um objeto físico que as pessoas gostariam de manter e ter, provavelmente, como resposta ao crescimento do e-book", afirma. (Diário de Notícias)

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

EUA preparam-se para novo recorde no cinema em 2013, o mundo e a China crescem e Portugal cai...


Homem de Ferro 3 foi o sucesso nos EUA, que sonha chegar aos 11 mil milhões de dólares de receitas de bilheteira. Portugal perde espectadores mas tem uma Gaiola Dourada.
s bilheteiras dos EUA continuam a dar apenas um sinal: os blockbusters, com a aliança entre o gigante dos comics Marvel e a Disney à cabeça, são ainda o segredo do sucesso. E dos recordes. Pelo segundo ano consecutivo, um super-filme Marvel foi o mais visto nos EUA — Homem de Ferro 3 sucede aosVingadores e contribuiu para que as receitas do box office americano cheguem aos 11 mil milhões de dólares. Em Portugal, o cenário é bem menos optimista: perdeu-se mais de um milhão de espectadores e produziu-se muito, muito pouco cinema.
Nos EUA, ainda o grande exportador mundial de cinema para consumo de massas, as expectativas são altas: até à meia-noite desta terça-feira, as previsões citadas pela Variety indicam que se baterá então novo recorde de receita de bilheteira, apesar de o número de espectadores não estar em crescendo — o preço dos bilhetes é que está e a quantidade de pessoas que foi ao cinema manteve-se em relação a 2012. E muitas foram mesmo ver osblockbusters e seus derivados em franchise, ingredientes do modelo de negócio que alguns temem vá vitimar a indústria norte-americana.
No ano passado, ultrapassaram-se os oito mil milhões de euros de receitas de bilheteira graças a Os Vingadores, ao primeiro tomo de O Hobbit e à adaptação de Os Miseráveis. Em 2013, espera-se que os números atinjam pela primeira vez os 11 mil milhões de dólares nos EUA (que ao câmbio actual acabam por ser inferiores a 2012 em euros — 7,9 mil milhões). O filme que arrasou quarteirões foi mesmo Homem de Ferro 3, com mais de 871 milhões de euros de receitas em todo o mundo e o mais rentável do box office norte-americano. É um sucesso fruto do que o analista do Guardian, Phil Hoad, chama a “abordagem de fertilização cruzada” da Marvel, visto que Homem de Ferro é um dos Vingadores, filão também explorado este ano nas salas com o segundo Thor.
No que toca ao mercado mundial, as estimativas em termos de receitas brutas de bilheteira são de 4 ou 5% de crescimento em relação a 2012, muito graças à vitalidade do consumo na China, atenta ainda a Variety. Nos dez filmes mais vistos na China este ano estão quatro blockbusters e/ou franchisesamericanos (Homem de Ferro 3, Gravidade, Velocidade Furiosa 6, Batalha do Pacífico) mas também seis filmes chineses, com Homem de Ferro 3 em segundo lugar num mercado dominado em 2013 por Journey to the West: Conquering the Demons, uma comédia de acção baseada no clássico da literatura chinesa homónimo. De acordo com o Guardian, focado no número de espectadores nas salas e não nas receitas de bilheteira, a China será o maior mercado mundial de cinema em 2018.
A Gaiola portuguesa
Em Portugal, o francês A Gaiola Dourada, de Ruben Alves, é o filme mais visto do ano e o sétimo mais visto na última década nos cinemas portugueses. Foi o único título deste ano a entrar na lista dos 40 mais vistos entre 2004 e 2013, segundo dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) que contabilizam o período até 30 de Dezembro, com mais de 756 mil espectadores e 3,8 milhões de euros de receitas brutas de bilheteira. No topo desta lista estão o imbatível Avatar, de James Cameron, com 1,2 milhões de espectadores em 2009, seguido do musical Mamma Mia!, com 851 mil espectadores em 2008, e da animação Shrek O Terceiro, de 2007, com 824 mil bilhetes vendidos.
O ano de 2013 foi agitado — e não pelos melhores motivos — no cinema português. A produção teve os seus resultados mais baixos na última década, com apenas 19 títulos produzidos — dos quais quatro longas-metragens de ficção, cinco longas documentais e apenas duas curtas de animação. Em 2012, por exemplo, produziram-se 39 títulos, já de si um valor baixo quando o resto da década nunca caiu abaixo dos 48 filmes. Reflexos do ano zero do cinema português, quando não abriram concursos para apoios públicos ao sector, e talvez um prenúncio do que pode ser 2014, porque 2013 foi um ano marcado pelo não pagamento da taxa anual pelos operadores de TV por subscrição, que assim deixaram de fora das contas de 2013 cerca de 11 milhões de euros que se destinariam em parte aos apoios públicos à produção.
A acentuada quebra nas bilheteiras, que pode ter tido em Dezembro e nas estreias de Natal como O Hobbit: A Desolação de Smaug ou na saga The Hunger Games: Em Chamas salva-vidas de última hora, era até ao final de Novembro de 11,7%. Ou seja, venderam-se menos 1,4 milhões de bilhetes e perdeu-se quase um milhão e meio de espectadores nas salas nos primeiros 11 meses do ano. Em Janeiro, com as contas de 2013 fechadas pelo ICA, a lista dos mais vistos e do número de espectadores deverá sofrer ainda algumas alterações. Se A Gaiola Dourada parece imune a quaisquer recém-chegados, seguida pelos 426 mil espectadores que foram ver Velocidade Furiosa 6 ao cinema, Gru – O Maldisposto 2 e A Ressaca – Parte III, em terceiro e quarto lugares até Novembro, já foram suplantados por Frozen – O Reino do Gelo e pelo português 7 Pecados Rurais, ambos estreias de Dezembro que até ao dia de Natal tinham já chamado às salas 297 mil e 259 mil pessoas, respectivamente. O segundo capítulo de O Hobbit foi visto nas salas por 183 mil espectadores nas suas duas primeiras semanas de exibição.
De acordo com os números mais recentes do ICA, estrearam-se em Portugal, até dia 29, 20 longas-metragens de produção portuguesa — entre elas 7 Pecados Rurais, de Nicolau Breyner, Comboio Nocturno para Lisboa, de Billie August, e RPG, de Tino Navarro e David Rebordão, os três mais vistos da listagem.

Durante alguns meses, vários distritos e cidades ficaram sem oferta de cinema comercial de estreia simultânea, o que pode ter influído em parte no comportamento do box office português. Com o encerramento de 70 salas da portuguesa Socorama por todo o país, reabrindo 54 delas pelas mãos do novo exibidor brasileiro Orient Cineplace, mais algumas perdas de salas emblemáticas da capital (Londres, King, por exemplo) e a abertura de dois ecrãs low-cost no Saldanha Residence, o mercado de exibição mudou de rosto. Continuando a ser dominado pela portuguesa Zon, tem agora como segundo maior nome a Orient Cineplace, seguida pela UCI. (Jornal Público)