quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Morreu o pintor Nadir Afonso, mestre da abstracção geométrica.


O arquitecto e pintor Nadir Afonso morreu esta quarta-feira aos 93 anos. Nadir Afonso estava internado no Hospital de Cascais.
Nadir Afonso, que foi um dos introdutores da abstracção geométrica em Portugal, pintou até ao final da sua vida.
“É um dos pioneiros da abstracção geométrica em Portugal, juntamente com Fernando Lanhas e Joaquim Rodrigo. Fazem parte da primeira geração que procurou resgatar no país um verdadeiro processo modernista que ficou sempre adiado depois da morte de Amadeo de Souza Cardoso”, diz Pedro Lapa, director do Museu Berardo, em Lisboa.
Nadir Afonso morreu esta quarta-feira, pouco depois de fazer 93 anos, noHospital de Cascais, disse à agência Lusa a família.
Depois de ter vivido a infância em Chaves, onde nasceu a 4 de Dezembro de 1920, Nadir Afonso mudou-se para o Porto onde foi estudar Arquitectura em 1938 na Escola de Belas-Artes. Estudou também em França, na escola Beaux-Arts de Paris, onde chega em 1946.
Foi da sua geração a figura que mais frutos colheu dos contactos com a vanguarda internacional: “Viveu em Paris. Trabalhou com Le Corbusier, foi colega do [compositor] Xenákis, que também foi arquitecto, foi amigo e colega de Vasarely. Também trabalhou com o Niemeyer em São Paulo. Expôs na Galeria Denise René, centro das vanguardas construtivistas do pós-guerra em Paris.”
Foi depois do período brasileiro, entre 1952 e 1954, que Nadir Afonso decidiu abandonar definitivamente a arquitectura para se dedicar em exclusivo à pintura.
No período das décadas de 1940 e 1950, distante de Portugal, “realiza uma obra por vezes mal avaliada na extensão, complexidade e actualidade das suas propostas". "É ele que faz a primeira pintura cinética em Portugal”, continua Pedro Lapa, referindo-se ao objecto cinético Espacillimité (1956). Por último, Lapa refere os muitos livros que escreveu e publicou, “desenvolvendo uma actividade de teorização e reflexão ímpar no contexto dos artistas portugueses das sua geração”.
Em 2010, o Museu do Chiado dedicou a Nadir Afonso uma extensa exposição, intitulada Sem Limites, com cerca de cem obras. O artista morreu, contudo, sem ver inaugurada a sede da fundação com o seu nome.
Em Chaves e com um projecto do arquitecto Siza Vieira orçado em nove milhões de euros, a Fundação Nadir Afonso teve data de inauguração marcada para Julho deste ano. Em Setembro de 2012 o Governo anunciou que o estatuto de utilidade pública fora retirado ao projecto. Nessa altura, Siza Vieira lamentou ao PÚBLICO a  “espantosa velocidade com que se tomam posições a meio das obras, deixando de lado os compromissos assumidos”: "A noção que isto dá é a de um barco à deriva, e a afundar-se. E deixamos o país em ruínas", criticou.

Esta quarta-feira o arquitecto disse à imprensa ser “um desgosto” Nadir Afonso não chegar a inaugurar a fundação onde a sua obra ficaria exposta. Já na nota de pesar que remeteu à imprensa em seu nome e do Governo, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, escreveu: "Nadir Afonso é uma figura de proa das artes portuguesas, um artista que, através dos seus ideais e ao longo de décadas, estabeleceu uma linguagem pioneira na pintura portuguesa do seu tempo. [...] Enquanto arquiteto, pintor ou pensador, Nadir Afonso conseguiu sempre representar Portugal e as artes portuguesas ao mais alto nível em todo o mundo." (Jornal Público – 11.12.2013)

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