sábado, 30 de agosto de 2014

Centenário de Julio Cortázar celebrado em todo o mundo.


A grande exposição Los Otros Cielos, que se inaugura nesta terça-feira no Museu Nacional de Belas Artes de Buenos Aires, é a mais ambiciosa das muitas iniciativas que estão a assinalar, um pouco por todo o mundo, o centenário do escritor argentino Julio Cortázar, autor de Histórias de Cronópios e de Famas (1962) e do romance experimental Rayuela (1963).
Ponto alto do Ano Cortázar 2014, o programa de comemorações que o Estado argentino está a promover para celebrar o centenário de Julio Cortázar, a exposição Los Otros Cielos – cujo nome ecoa o título de um dos contos do livro Todos os Fogos o Fogo (1966) – atravessa toda a vida de Cortázar através dos arquivos pessoais que o autor deixou, e que incluem documentação vária, correspondência, fotografias, e mesmo filmes domésticos, rodados em super-8 e nunca antes mostrados no país, ou os móveis que o autor possuía na sua casa de Saignon, no Sul de França.
Organizada em 12 núcleos temáticos, a exposição que se inaugura nesta terça-feira no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) de Buenos Aires –  no dia em que se cumprem exactamente cem anos sobre o nascimento do escritor em Ixelles, nos arredores  de Bruxelas – está organizada de modo a tanto poder ser vista por uma ordem preestabelecida como de forma aleatória. Opção que decerto agradaria ao autor de Rayuela – o monumental romance experimental de Cortázar (edição portuguesa da Cavalo de Ferro, com o títuloO Jogo do Mundo – Rayuela), que também pode ser percorrido de vários modos, cada um deles correspondendo a uma obra diferente. Se se começar na primeira página, há um livro que acaba no capítulo 56, mas também é possível iniciar-se a leitura no capítulo 73 e, a partir daí, seguir-se as indicações deixadas no final de cada capítulo para se saber o que se deve ler a seguir.
O curador de Los Otros Cielos, Juan Becerra, explica que a exposição pretendeu corresponder à versatilidade do próprio Cortázar. “Foi um contista, um romancista, um viajante, um agitador político, um crítico de arte, um poeta”, disse Becerra à agência EFE, explicando que tentou “reconstruir essa figura cheia de matizes e que continua a cativar as novas gerações de leitores”.
Becerra vê em Cortázar “um escritor que se move como um aventureiro, que tem algo de Che Guevara e de Tintin”, e tentou que a exposição reflectisse essa sua característica: “Se há uma ideia geral que possa reunir numa só órbita os planetas que compõem Los Otros Cielos, é a ideia de inquietude.”
Complementando esta exposição, o MNBA inaugura também nesta terça-feira uma segunda mostra, intitulada Los Fotógrafos: Ventanas [janelas] a Julio Cortázar, que dá a ver o escritor através do olhar de fotógrafos profissionais, como o espanhol Antonio Gálvez ou as argentinas Sara Facio e Alicia D’Amico.
O programa de comemorações do centenário daquele a quem o ficcionista mexicano Carlos Fuentes, sublinhando o carácter revolucionário da sua obra, chamou “o Simón Bolívar do romance” incluirá um congresso internacional na Biblioteca Nacional argentina, Lecturas y Relecturas de Julio Cortázar, com núcleos temáticos que não esquecerão as muitas paixões de Cortázar, do cinema ao jazz e ao boxe, e ainda o programa RompeCortázar, no Palais de Glace (um edifício de Buenos Aires que reproduz o estilo francês da Belle Époque), que reúne trabalhos de escritores e artistas visuais a partir de oito histórias breves do autor de Bestiário (1951) e de outros volumes de contos, como As Armas Secretas (1959) ou Queremos Tanto a Glenda (1980). Os dois últimos acabaram  de ser lançados em Portugal pela Cavalo de Ferro.
Também a Fundação José Saramago não quis deixar passar em claro o centenário de Cortázar, e dedica-lhe o número de Agosto da revista Blimunda(que pode ser descarregada gratuitamente), publicando um texto de Carlos Fuentes sobre o amigo argentino, um artigo de Dulce María Zuñiga, a coordenadora da cátedra Julio Cortázar na universidade mexicana de Guadalajara, uma entrevista com o catalão Carles Álvarez Garriga, um dos grandes especialistas na obra de Cortázar e organizador do livro póstumoPapéis Inesperados (2009), e um texto do jornalista brasileiro Ricardio Viel sobre os cem anos do “maior cronópio de todos” (os amigos e admiradores de Cortázar chamavam-lhe afectuosamente Cronópio-Mor).
E foi precisamente nas Histórias de Cronópios e de Famas que o cineasta argentino Julio Ludueña se inspirou para o seu filme de animação homónimo, que se estreia na quinta-feira em Buenos Aires.
Julio & Carol

Já em fase de conclusão está também o documentário Julio & Carol, do canadiano Tobin Darlymple, que investigou a história de amor de Cortázar e da sua segunda mulher, a escritora, activista e fotógrafa americana Carol Dunlop, com quem o escritor viveu em Paris. Darlymple recolheu um grande número de testemunhos e teve a sorte de conseguir encontrar a velha furgoneta Volkswagen Kombi em que Cortázar e Carol fizeram a viagem pela auto-estrada Paris-Marselha que está na origem do livro que o casal escreveria a meias: Los Autonautas de la Cosmopista (1982). (Jornal Público)


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