quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Morreu Ettore Scola, um dos grandes do cinema italiano.


O realizador italiano Ettore Scola morreu esta terça-feira, aos 84 anos. O realizador de Tão Amigos Que Nós Éramos (1974) e de Feios, Porcos e Maus(1976) e Um Dia Inesquecível (1977) estava internado desde domingo em Roma, revelou a agência italiana ANSA. Era considerado o último dos grandes realizadores da "comédia italiana", categoria que é sempre limitativa, que até foi uma denominação criada com algum sentido pejorativo, e que na verdade diz pouco do que fizeram todos os que a cultivaram ou que por lá passaram - Monicelli, Risi, Comencini, Scola...
Em 2011, tinha posto fim à sua carreira cinematográfica mas em 2013 apresentou no Festival de Veneza Che strano chiamarsi Federico/Que Estranho Chamar-se Federico, filme-homenagem ao seu amigo Federico Fellini com imagens de arquivo. Numa entrevista ao jornal Il Tempo, em 2011, afirmava que dizia adeus ao cinema "sem se arrepender de nada" depois de uma carreira de mais de 50 anos e mais de 40 filmes realizados. Explicou na altura já não se sentir sincronizado com a indústria cinematográfica.
"A minha experiência no mundo da realização já não é o que costumava ser: descontraída e feliz. Hoje há lógicas de produção e distribuição com as quais não me identifico", contou nessa entrevista o realizador, acrescentando que no cinema é fundamental ter-se liberdade de escolha. "Estava a começar a sentir-me obrigado a respeitar regras que não me permitiam sentir livre",afirmou nessa entrevista de 2011.

Estava desiludido, acreditava que já não havia lugar para a criatividade como antigamente. "A crise económica ainda veio agravar mais a situação. Tendo em conta a minha idade, sei que fiz o que devia. Não me arrependo de nada. Trabalhei sempre com uma grande liberdade. Numa certa altura, chega o momento em que o melhor a fazer é retirar-me", acrescentou.


Já antes, em 2009, Scola dizia estar num momento da vida em que o cinema contemporâneo já pouco lhe dizia. “Prefiro gozar da minha velhice”, afirmou ao La Repubblica, garantindo estar a viver “um momento belíssimo”.
Ettore Scola nasceu a 10 de Maio de 1931, em Trevico, Itália. Depois da Segunda Guerra Mundial foi viver para Roma, onde estudou Direito. Contudo, o gosto pela escrita criativa e pelo cinema foi mais forte e, em 1953, iniciou a sua carreira na indústria cinematográfica como argumentista, depois de ter trabalhado como humorista em algumas revistas - meio onde conheceria Fellini, e é sobre esses anos que fala Que Estranho Chamar-se Federico. Durante uma década, contribuiu com material para inúmeros filmes de Dino Risi e de outros realizadores, tendo colaborado frequentemente com Ruggero Maccari, destacando-se desta parceria a comédia Il Magnifico Cornuto  (1964), com Claudia Cardinale. Em 1964, estreou-se como realizador com Se permettete parliamo di donne.
O sucesso internacional chegou em 1974 com Tão Amigos Que Nós Éramos, retrato da sociedade italiana no pós-guerra, dedicado ao seu amigo, actor e realizador Vittorio de Sica, com Nino Manfredi, Vittorio Gassman e Stefania Sandrelli. (Valerá a pena compará-lo com outro balanço geracional, o Amici Miei, de Monicelli, realizado um ano depois: o romantismo de Scola, sempre em tons fúnebres, é a outra face da moeda da vitalidade guerrilheira de Monicelli). Dois anos depois, venceu o prémio de Melhor Realizador no Festival de Cannes, com Feios, Porcos e Maus, talvez o seu título mais conhecido.
Mas o seu grande classico é Um dia Inesquecível  (1977), protagonizado por Sophia Loren e Marcello Mastroianni, que interpretam dois vizinhos que se conhecem em 1938 durante uma visita de Hitler a Itália. Eis um exemplo de como a "comédia à italiana" é coisa redutora: sublime melodrama, história de amor impossível entre uma dona de casa e um homossexual num apartamento fechado - filmado numa das "relíquias" da arquitecura fascista de Roma - Um dia Inesquecível  foi nomeado para dois Óscares: Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Actor (Mastroianni). A melancolia, o amor como coisa funesta, são sentimentos de Passione d'Amore (1981), dois anos antes de um dos sucessos da sua carreira, O Baile. (Jornal Público – 20.Jan.2016)

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