sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Depois de Marrocos e do Egipto, também os Emirados Árabes Unidos interditam Exodus.


Há mais um país determinado a interditar a exibição de Exodus: Gods and Kings: os Emirados Árabes Unidos (EAU) anunciaram na terça-feira que o novo filme de Ridley Scott, um fresco bíblico sobre a longa jornada de Moisés e do povo judeu através do Egipto, não será exibido nas salas de cinema do país devido a "erros históricos e religiosos". "O filme nega que Moisés seja um profeta e redu-lo ao estatuto de um pregador pela paz", justificou o director do National Media Council dos EAU, Juma Obaid al-Leem, citado pela AFP, acrescentando que "a narrativa de Ridley Scott contraria a versão dos factos que está inscrita na Bíblia.
Depois de Marrocos e do Egipto, os EAU são o terceiro país a proibir a projecção de Exodus, uma produção que custou mais de 140 milhões de dólares (cerca de 115 milhões de euros) mas que rendeu já cerca de um sexto desse montante só no primeiro fim-de-semana de exibição nos Estados Unidos.
Embora seja um fenómeno relativamente raro nos EAU, a interdição de um filme está prevista na lei, nomeadamente nos casos em que haja ofensa à religião oficial do país, o islamismo. Esse é, de resto, um dos argumentos invocados pelo National Media Council para defender a decisão agora tomada: "Não permitimos a distorção das religiões (...). Quando se trata de filmes históricos ou religiosos, estamos atentos ao relato, que deve ser correcto, e temos o cuidado de impedir que as imagens possam ferir os sentimentos de terceiros", sublinhou al-Leem, explicando que Exodus viola um dos mandamentos mais irrevogáveis da religião muçulmana, que proibe expressamente a representação de Deus. "É perfeitamente normal que exprimamos as nossas reservas sobre um filme em cada mil", disse ainda o responsável, desvalorizando o impacto mediático deste acto de censura num país em que a esmagadora maioria da população (mais de 90% dos habitantes dos emirados são expatriados) não tem qualquer vínculo com a religião muçulmana.
Razões semelhantes foram invocadas no Egipto, onde o ministro da Cultura, Gaber Asfour, convocou uma conferência de imprensa na passada sexta-feira, 26, para informar que a comissão especial encarregue de aprovar a exibição deExodus se tinha decidido unanimemente pela sua interdição. Asfour, que presidiu pessoalmente aos trabalhos da comissão (composta, entre outros elementos, pelo director dos serviços de censura egípcios e por historiadores), alegou que o filme de Ridley Scott "faz de Moisés e dos judeus os construtores de pirâmides, contrariando a investigação histórica": "É um filme sionista por excelência. Apresenta os factos de um ponto de vista sionista e contém uma falsificação da história", disse à AFP. A comissão especial que avaliou o filme censurou particularmente a cena da divisão do Mar Vermelho: "No filme, Moisés tem uma espada e não um bastão, e a divisão das águas é atribuída a um fenómeno natural de avanço e recuo das marés", criticou Mohamed Afifi, chefe do Conselho Supremo para a Cultura.
Dias antes, em Marrocos, as salas de cinema de todo o país receberam indicações orais para desprogramar a exibição de Exodus, cuja estreia estava prevista para 24 de Dezembro. Argumentando que o filme tinha obtido um visto de exibição em condições perfeitamente legais, uma sala de cinema de Marraquexe, o Colisée, continuou a projectar o filme até sábado, dia em que o Centro de Cinematografia Marroquino (CCM) emitiu finalmente uma ordem escrita decretando a proibição do filme na sequência de uma decisão unânime de uma comissão de apreciação.
Tal como nos EAU, a violação dos preceitos islâmicos foi a razão invocada: "Ridley Scott representa Deus na figura de uma criança, no momento da revelação divina feita a Moisés. Essa representação física é um erro." Entretanto, em declarações à revista TelQuel, o director do CCM explicou que a interdição de Exodus se devia também a "motivos de segurança": "Viram o que se passou na Tunísia após a exibição do filme Persépolis. O turismo continua a ressentir-se disso até hoje", lembrou, aludindo à violência de islamistas radicais na sequência da difusão do filme de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud em Outubro de 2012 por uma cadeia privada tunisina. (Jornal Público – 02.Jan.2015)

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