A exposição Sam Shaw: 60 Anos de Fotografia revela
uma espécie de caleidoscópio do século XX. Inaugura esta sexta-feira no Centro
Cultural de Cascais.
Não há
como fugir. Sam Shaw será sempre aquele que captou Marilyn Monroe e o seu
vestido esvoaçante sobre um respiradouro do metro de Nova Iorque. Estavam na
rodagem do filme O Pecado
Mora ao Lado (1955) e
Marilyn posava para Sam, que tanto haveria de a fotografar. Tanto que há uma
sala só dela na exposição Sam
Shaw: 60 Anos de Fotografia, que hoje inaugura no Centro Cultural de
Cascais. Marilyn, de roupão vestido, olha-nos de uma janela com a cara assente
na mão direita. Sorri, mas não lhe conseguimos decifrar o rosto. Marilyn de
calças de ganga. "Hoje toda a gente usa jeans. Ela contou ao Sam que as
vestia, ia nadar no oceano - vivia na Califórnia - com elas vestidas, depois
punha-se ao sol e deixava-se secar ao sol para que elas ficassem justas ao corpo."
Chama-lhe
Sam, mas é sua neta. Melissa Stevens está em Cascais para assistir à montagem e
inauguração da mostra que junta 200 fotografias do avô. Pouco depois da sua
morte, em 1999, dedicou-se aos seus arquivos. Aqueles que guardam - ainda -
Marilyn numa banheira. "Sam foi buscá-la. Não me lembro qual era o evento.
Ela estava atrasada, estava toda a gente à espera. Ela estava na banheira, a
tomar um banho cheio de gelo. Fazia-o muitas vezes para pôr o corpo firme antes
de se vestir e aparecer em público", diz Melissa recordando uma das muitas
histórias que o avô Sam lhe contou.
Percorrer as
salas dos 60 anos de fotografia daquele homem de bigode e gabardine vestida (é
assim que, numa das salas, surge a fotografar Audrey Hepburn) é como olhar para
um caleidoscópio do século em que viveu, tantas são as suas personagens que
captou. "Tirava uma fotografia a toda a gente que conhecia.Se não
estivesse a trabalhar tinha pelo menos uma câmara, se estivesse a trabalhar
tinha quatro." E foi com uma ou quatro que Sam Shaw captou Sophia Loren
deitada, de cabeça apoiada no braço que revela uma axila por depilar. Ou John
Wayne com o seu chapéu de cowboy em contraluz. Ou, por fim, Marlon
Brando de camisa rasgada ajoelhado aos pés de "Stella" (basta a
fotografia para que recordemos o grito) no filme de Elia Kazan, Um Elétrico Chamado Desejo (1951). (DN – 11.Set.2015)