As palhotas são todas iguais. Quatro prumos metidos no chão e varas de madeira a segurar o telhado coberto pelo carroicil das abertas, que é a melhor palha nascida na vegetação da Lezíria. O material das paredes vem da mesma origem. Apodrece depressa, mas depressa se refaz. E como o vento do norte sopra rijo e traz frio, os pescadores põem na parede desse lado latas velhas e pedaços de madeira que acham nos valados ou as enxurradas trazem no Inverno. Não espanta que pareçam vergonhosas de ali estarem; e acaçapam-se. Entra-se nelas de cabeça baixa como na vida.
Na parede do fundo, no lado do poente, coloca-se a tarimba onde todos dormem. Ao cutelo se são muitos. Onde os pais amam e os filhos aprendem; onde os doentes se queixam, gemendo, e onde os sãos se queixam, calando. Bastam dois tijolos para se arranjar cozinha; chega o chão varrido para se ter assento e mesa. Aos cantos ou penduradas das varas que seguram o tecto, as artes da pesca: as nassas, os botirões e as tarrafas.
O chão ressumbra humidade das marés do Tejo e anda no ar um cheiro a bafio. Também nisso as choupanas são iguais; também não há telhado mais alto a dominar por ali. A rasoira da sorte nivela as vidas e as choupanas. As da rua estreita, as que vieram depois, unem-se às da frente por varas lançadas de telhado para telhado, amparando-se todas para defrontarem os temporais.
Assim os homens se aconchegassem.
(extraido do Livro: "Avieiros") - Recomendo a leitura ou convido a reler de novo...
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