sexta-feira, 11 de julho de 2014
segunda-feira, 7 de julho de 2014
Artistas ocuparam Museu do Chiado pelo direito à cultura.
"Cultura não é luxo", "Os mirós são nossos", "A cultura é de todos, a arte é para todos" - estas foram algumas das palavras de ordem nos cartazes usados pelos cerca de 50 artistas e agentes culturais que ocuparam o Museu de Arte Contemporânea, em Lisboa, na última noite.
A
ocupação "artivista" foi incentivada por Rui Mourão que ontem
inaugurou no museu a instalação multimédia Os Nossos Sonhos Não Cabem Nas
Vossas Urnas e, durante a sessão, apelou aos convidados a participar numa
ocupação pacifista da instituição.
O
artista desafiou as pessoas para um ato que era ao mesmo tempo artístico e
político. "Estamos aqui em ocupação 'artivista' do Museu Nacional de Arte
Contemporânea. Estamos a ocupar o museu em defesa do museu e não contra o
museu", disse o artista, na abertura da exposição, que procura demonstrar
que o protesto político também é arte. A ação de protesto foi feita "em
defesa do direito à Cultura", explicou à Lusa, Rui Mourão.
Alumas
pessoas já vinham preparadas e munidas de sacos-cama, como num acampamento. Os
ativistas realizaram uma assembleia que votou pela continuação da sua presença
nas instalações do museu para além do horário de funcionamento. A manifestação
terminou, mas algumas pessoas permanceram no museu durante a noite.
A
organização divulgou este vídeo da ação:
(Diário de Notícias)
quinta-feira, 3 de julho de 2014
A cultura é cara, a incultura é mais cara ainda.
"A
arte deve ser livre porque o ato de criação é em si um ato de liberdade",
escreveu Sophia de Mello Breyner Andresen no semanário Expresso, a 12 de julho
de 1975, num artigo a que chamou "A cultura é cara, a incultura é mais
cara ainda". Este impulso criativo sempre se mostrou como uma
inevitabilidade na vida da poetisa, que se iniciou na escrita aos 12 anos. Foi
ainda jovem, aos 24, que publicou por iniciativa própria o primeiro livro,
intitulado "Poesia".
De
origem dinamarquesa, desembarcou no Porto e ali permaneceu, na Quinta do Campo
Alegre (hoje o Jardim Botânico do Porto), onde viveu com o avô e acabou por
crescer. Uma casa cujo jardim foi cortado pela Ponte da Arrábida e cujos
plátanos foram arrancados, disse Sophia numa entrevista ao "Jornal de
Letras" a 5 de fevereiro de 1985.
Talvez
tenha sido a ausência desse jardim, imortalizado no poema "A Casa do
Mar", que tenha cravado a temática 'natureza' no universo poético da
autora: "A casa que eu amei foi destroçada/ A morte caminha no sossego do
jardim/ A vida sussurrada na folhagem/ Subitamente quebrou-se não é
minha".
Mar,
casa, tempo, amor. São ainda outros dos temas do universo da mítica escritora
portuguesa, que não gostava que lhe perguntassem porque é que escrevia. À
poesia, encontrou-a antes de saber que existia a literatura, disse um dia.
Sempre lhe foi natural.
Sophia
foi a primeira mulher portuguesa a receber o Prémio Camões, o mais importante
galardão literário da língua portuguesa. Quando, em 1999, numa entrevista à TSF
o jornalista lhe perguntou "porque não o Nobel?", Sophia respondeu
"que o nome do Nobel não vale o de Camões".
A
transparência da palavra, o ritmo melódico dos versos, a lucidez e pureza da
escrita da poetisa inserem-na no panorama da literatura nacional como uma das
autoras mais reconhecidas e amadas pelo público.
A
poesia está na rua
Detentora
de vários galardões literários e condecorada três vezes pela República
Portuguesa, a poesia de Sophia situa-se entre uma sensibilidade estética
espiritual e uma poesia social, de denúncia a qualquer tipo de ataque à
dignidade humana (cujo estilo se acentuou durante o período que antecedeu o 25
de abril de 1974). "Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial
inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a
substância do tempo", escreveu sobre esse dia de abril.
Ainda
agora, a intervenção de Sophia subsiste. Exemplo disso é a presença da frase
por ela escrita "a poesia está na rua", outrora presente no
emblemático quadro da pintora Vieira da Silva e imortalizada hoje pelas várias
paredes dos bairros lisboetas.
Também
o mar - há muito desbravado - foi das temáticas mais presentes na sua obra
poética, cuja "escrita é de nau e singradura". Tanto é que o
Oceanário de Lisboa expõe os seus poemas em zonas de descanso da exposição,
permitindo aos visitantes absorverem esse mar enaltecido por "Sophia como
quem procura a ilha sempre mais ao sul", escreveu Manuel Alegre num poema
de homenagem.
Foi
no dia 2 de julho de 2004 que morreu na sua residência, em Lisboa, aos 84 anos.
Sophia de Mello Breyner Andresen deixa editada uma vasta obra de poesia,
antologia, prosa, ensaios e teatro. Casada com o jornalista, político e
advogado Francisco Sousa Tavares e mãe de cinco filhos, entre eles o jornalista
e escritor Miguel Sousa Tavares, Sophia de Mello Breyner permanece como uma
poetisa intemporal, humana, uma poetisa do e para o povo.
Ainda
o artigo "A cultura é cara, a incultura é mais cara ainda", que
Sophia escreveu para o Expresso: "Quando a Arte não é livre o povo também
não é livre. Onde o artista começa a não ser livre o povo começa a ser
colonizado e a justiça torna-se parcial, unidimensional e abstrata. Se o ataque
à liberdade cultural me preocupa tanto é porque a falta de liberdade cultural é
um sintoma e significa sempre opressão para um povo inteiro".
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