Fim
do ano é tempo de balanço. E eu abalanço-me aqui a escolher os livros mais
belos do ano. São todos óptimas prendas de Natal de última hora. Como não há
bela sem senão, o seu preço é maior do que a média. Pois que a sugestão de
livros mais dispendiosos fique como um sinal do desaperto do cinto. Ouço dizer
que vem aí a reposição gradual dos salários e da sobretaxa de IRS. Fico, como
toda a gente, satisfeito com o anúncio e mais disposto a abrir, nas livrarias,
os cordões à bolsa. O certo é que, conforme me lembram os pontuais extractos, o
meu banco ainda não sabe desse fim da austeridade. Mas eu quero lá saber se, ao
comprar um belo livro para mim ou para oferecer, o saldo fica mais baixo...
Investir em belos livros é investir na beleza e a beleza é sempre consoladora.
A ordem é a alfabética do apelido dos autores (o título parcialmente em inglês
indica que a edição é bilingue).
–
Pepe Brix, Os Últimos Heróis. The Last Heroes, Matéria-Prima Edições. Este
livro de fotografias ilustra a odisseia dos pescadores portugueses a bordo do
arrastão Joana Francesa, um dos últimos bacalhoeiros nacionais, nos mares
frigidíssimos da Terra Nova. Em parte saiu na National Geographic Portugal de
Fevereiro passado. Mas a reportagem, alargada e em grande, é outra coisa. Passei
a olhar o bacalhau com outros olhos. Patrocínio da Riberalves e apoio do Museu
Marítimo de Ílhavo, que exibe um aquário de bacalhaus.
–
Hélder Carita e António Homem Cardoso, A Casa Senhorial em Portugal.
Modelos, Tipologias, Programas Interiores e Equipamento, Leya. Lançado há
dias numa das casas senhoriais mais belas de Portugal, o Palácio dos Marqueses
de Fronteira, em Lisboa, um historiador de arte e um dos fotógrafos portugueses
mais conhecidos mostram, sob a égide da Associação Portuguesa de Casas Antigas,
o exterior e o interior de algumas dessas mansões. Os autores já nos tinham
dado edições de luxo como Oriente e Ocidente nos Interiores em Portugal (Civilização)
e Tratado da Grandeza dos Jardins de Portugal (Círculo de Leitores) e
esta é mais uma, para se sobrepor a elas na mesa do café.
–
Miguel Claro, Dark Sky. Alqueva. O Destino das Estrelas. A Star
Destination, Centro.Atlântico.pt. Neste Ano Internacional Da Luz (notícia
de última hora: vai, em Portugal, ser estendido até Junho) um livro de um astrofotógrafo
português de reputação internacional que documenta a Reserva “Dark Sky” do
Alqueva, a primeira reserva mundial certificada como Destino Turístico
Starlight. Imagens avassaladoras que nos vêm de longe vistas do grande lago
alentejano!
–
Umberto Eco, História das Terras e dos Lugares Lendários, Gradiva. O
historiador e escritor italiano, autor de O Nome da Rosa, brinda-nos
com mais uma das suas belas obras, que junta erudição e rica iconografia. Quem
gostou da História da Beleza ou da História do Feio ou
ainda de A Vertigem das Listas (todos eles saídos na Difel) não pode
perder este roteiro dos lugares maiores que a pródiga imaginação humana criou.
–
Mário Ruivo (coordenação), Do Mar Oceano ao Mar Português. From the Mar
Oceano to the Portuguese Sea, Edições CTT e Centro Nacional de Cultura. Um
renomado cientista do mar português coordenou, para este cuidado volume dos
Correios de Portugal (como é timbre desta instituição), um conjunto de textos
ricamente ilustrados sobre a nossa antiga e íntima relação com o mar, que vão
da história à gastronomia. Inclui uma colecção de selos.
–
Peter Sís, O Piloto e o Principezinho. A vida de Antoine de Saint-Exupéry,Jacareca.
Um autor premiado de livros infantis encanta-nos com o extraordinário design de
uma biografia do autor de O Principezinho (que, pesem embora os seus
72 anos, permanece actualíssimo, como mostra a sua recente adaptação ao cinema
em desenhos animados). Eu já conhecia aÁrvore da Vida, a biografia de Darwin
distinguida como melhor álbum ilustrado do ano pelo The New York
Times, mas com o novo livro fiquei rendido ao artista norte-americano nascido
na Checoslováquia.
–
Vários, O Círculo Delaunay. The Delaunay Circle, Centro de Arte
Moderna, Gulbenkian. Ainda no Ano da Luz é publicado o catálogo de uma
extraordinária exposição de Sonia e Robert Delaunay, o casal de pintores
franceses (ela vinda da Ucrânia) que em Junho de 1915 se estabeleceu em Vila do
Conde para fugir aos horrores da guerra que grassava na Europa, tendo convivido
com pintores como Amadeo de Souza-Cardoso, Eduardo Viana e José de Almada
Negreiros. Lembro que Sonia Delaunay foi alvo de uma exposição recente na Tate
Modern em Londres. Para ficar espantado com as suas composições de cor, basta
ir à Fundação Gulbenkian à exposição comissariada por Ana Vasconcelos.
Boas
leituras e Boas Festas!
Professor
universitário (tcarlos@uc.pt) - Jornal Público - 27.Sez.2015
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