terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Bayard e a fábrica de rebuçados.

Quando metade da redação da Time Out começou a tossir, Mariana Correia de Barros lembrou-se da cura tradicional. E foi até à Amadora, conhecer a fábrica dos rebuçados peitorais portugueses. 


A história dos rebuçados do Dr. Bayard dava um filme. Com direito a cenas de suspense e tudo. E esta era uma daquelas que encheria os portugueses de orgulho. É que o nome engana, mas os peitorais (assim chamados por quem os fabrica) são portugueses da silva. Apesar do nome muito francês. Mas vamos por partes. Tudo começou nos anos 40, quando Álvaro Matias, um jovem de Vale da Mula, na Guarda, veio para Lisboa à procura de trabalho. Encontrou-o numa mercearia da cidade que, como era hábito na altura, fazia entregas ao domicílio.
Feliz coincidência, o jovem acabou por ser destacado para fazer entregas em casa de um tal Bayard, um senhor francês (ninguém sabe se era mesmo doutor) refugiado em Portugal. E eis que, em tempo de racionamento, Álvaro tratava de fazer chegar ao francês mais do que lhe era permitido. “Um bocado às escondidas do patrão”, conta o filho, José António.
Tornaram-se amigos. Visitavam--se com frequência e Álvaro fazia de cicerone ao francês nos passeios pela cidade. Quando este quis voltar para França percebeu que já não tinha dinheiro para o bilhete. “O meu pai ajudou-o e como prova de agradecimento recebeu uma caixa de rebuçados, metálica, com uma fórmula dentro.” Além das pastilhas, Bayard prometeu vir buscar o português para uma nova vida lá fora.

Mas quis o destino que esse dia nunca chegasse. Os anos passaram, Álvaro trocou a mercearia por uma leitaria, casou-se e, no ano em que nasceu a primeira filha, 1949, decidiu experimentar a receita. Mesmo sem perceber nada do assunto. “Fazia a mistura num tacho em casa e a minha mãe embrulhava. Eram poucos quilos por dia, claro.” Quando os filhos cresceram, entraram também nesta espécie de linha de montagem artesanal. “Nós e os nossos vizinhos.” Só que tantos anos a fazer pontos de rebuçado começaram a cansar Álvaro Matias.
“Ou tornava o Dr. Bayard num negócio a sério, ou arranjava outra coisa.”Mais uma vez, um acaso resolveu-lhe o dilema. “Foi para Itália com uns amigos ver um jogo de futebol e acabou por ir visitar umas fábricas de doces.” Fez contactos, importou algumas máquinas e deu início à primeira fábrica de rebuçados. “No quintal de nossa casa.”Estávamos nos anos 70 e a família Matias, sempre sob o nome de Dr. Bayard, ganhava nome no mercado. Os rebuçados, feitos com açúcar, mel, glucose e um xarope de plantas medicinais que lhes dá um paladar característico associavam--se à cura da tosse. Mesmo não havendo nenhuma teoria científica que o comprove, a verdade é que quase só se vendem entre os meses de Setembro e Abril.
Hoje, já vão na terceira leva de máquinas industriais. Cada vez mais eficientes. A fábrica trabalha de segunda a sexta, com uma produção média de quatro mil quilos de massa por dia. E isso significa nada mais nada menos do que 640 mil rebuçados. “Já só fabricamos este produto, mas temos 14 marcas registadas. Uns torrões de leite, uns rebuçados com bonecos do clube de futebol e outros de mentol. Uma ou duas vezes por ano fabricamos os de mentol, mas só mesmo em edições especiais.”Os tradicionais, aqueles que todos comemos durante a infância, ainda são vendidos à unidade em mercearias antigas e em grandes doses, nos hipermercados.
Do Dr. Bayard é que nunca mais ninguém ouviu falar. E já lá vão 62 anos.
terça-feira, 25 de Janeiro de 2011

Nota: Enviado por "mail" por um amigo.

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