quarta-feira, 27 de maio de 2015

Acampar com histórias e "show cooking" na Feira do Livro de Lisboa.


A 85.ª edição da Feira do Livro de Lisboa, que decorre de 28 de Maio a 14 de Junho, vai ter novidades. Acampamento com histórias para crianças, conferências com oradores internacionais e um "show cooking".
Conferências com convidados internacionais, um auditório “com uma cozinha equipada” - para ali se realizarem apresentações de livros de gastronomia - e várias noites dedicadas às crianças com uma nova actividade, Acampar com histórias, são algumas das novidades da 85.ª edição da Feira do Livro, que decorre de 28 de Maio a 14 de Junho no Parque Eduardo VII, em Lisboa.
Esta edição conta com um total de 271 pavilhões (mais 21 do que o ano passado) e também com um número recorde de participantes: são 123 os inscritos nesta feira do livro (mais 23 do que em 2014).
Na conferência de imprensa que decorreu esta terça-feira à tarde no Parque Eduardo VII, onde já se podem ver montados os pavilhões coloridos das diversas editoras, o presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), João Alvim, referiu que em 2014 o número de visitantes da Feira do Livro de Lisboa foi de 532 mil e que a expectativa da APEL “é sempre a de se ultrapassar" o número de visitantes do ano anterior. “Ambicionamos [este ano] chegar aos 600 mil visitantes, com os [novos] espaços de lazer, a programação e se as condições meteorológicas forem favoráveis”, acrescentou.
Por sua vez, Bruno Pacheco, secretário-geral da APEL, lembrou que este ano os visitantes podem contar com “mais de mil iniciativas durante os 18 dias da feira, aproximadamente mais 100 do que no ano anterior". Haverá mais locais de restauração e o novo espaço "show cooking" - com um auditório localizado à entrada da feira junto ao Marquês de Pombal onde haverá “uma cozinha equipada” - permitirá que ali decorram apresentações de livros de gastronomia e culinária. 
Entre as novidades mais entusiasmantes deste ano na feira inclui-se a iniciativa Noites Happy Readers: Acampar com Histórias mas para a qual já terminaram as inscrições. É dedicada aos mais pequenos, dos 8 aos 12 anos, e os participantes vão passar uma noite “rodeados de livros, histórias e letras”, tal como explicou Susana Silvestre, da rede de Bibliotecas Municipais de Lisboa. Esta actividade que se repete em seis noites – 19 e 30 de Maio, 5, 6, 12 e 13 de Junho - vai permitir que 120 crianças, que já foram seleccionadas após inscrição e o pagamento no site da APEL, façam uma visita guiada pela feira entre muitos livros e actividades, jantem e acampem durante a noite na Estufa Fria de Lisboa.
Logo após a cerimónia de inauguração da 85.ª edição da Feira do Livro de Lisboa, quinta-feira às 16h, inicia-se o primeiro de três ciclos de conferências às quintas-feiras com convidados internacionais dedicadas ao debate de temas ligados à indústria europeia do livro. A primeira conferência é sobre os direitos de autor/pirataria e contará com a presença do presidente da Federação Europeia de Editores, Pierre Dutilleul, no dia 28 de Maio.
A segunda conferência será dedicada à Lei do Preço Fixo e terá a participação de Kyra Dreher, co-presidente da Federação Europeia e Internacional de Livreiros (4 de Junho) e por fim, Richard Charkin, presidente da Associação Internacional de Editores irá estar na feira no dia 11 de Junho a discutir os constrangimentos internacionais aos direitos de autor e à luta contra a pirataria. Durante os 18 dias da feira irá decorrer ainda o I Encontro LiterárioNós e os livros, e a Fundação Francisco Manuel dos Santos vai promover um ciclo de onze debates sobre a economia portuguesa, o parlamento e o ensino, entre outros temas.
A Feira do Livro de Lisboa está aberta de segunda a quinta-feira das 12h30 às 23h, às sexta-feiras e vésperas de feriados das 12h30 às 24h, aos sábados das 11h às 24h e aos domingos e feriados das 11h às 23h.

Editado por Isabel Coutinho (Jornal Público –Maio.2015)

sexta-feira, 22 de maio de 2015

A China de Jia Zhang-Ke em três tempos.


O filme de Jia Zhang-Ke distingue-se por dar a ver os temas e interrogações da evolução da sociedade chinesa.
É bem verdade que o cinema nos ajuda a reavaliar as medidas do tempo. Por vezes, refletindo sobre conjunturas presentes de perturbante dramatismo, como acontece em Sicario, do canadiano Dennis Villeneuve, apostado em renovar um género - o thriller em torno das guerras da droga na fronteira México/EUA - muito explorado pela produção americana. Outras vezes, baralhando aquelas medidas e, no limite, questionando os sentidos e valores da nossa existência. Assim acontece em mais dois títulos marcantes da competição de Cannes: Mountains May Depart, do chinês Jia Zhang-Ke, e Youth, do italiano Paolo Sorrentino.
Este último e o projeto desenvolvido por Sorrentino logo após a consagração do seu anterior A Grande Beleza, Oscar de melhor filme estrangeiro de 2014. Agora, rodeou-se de um elenco invulgar - em que se destacam os veteraníssimos Michael Caine, Harvey Keitel e Jane Fonda - por assim dizer celebrando a sua internacionalização. Falado em língua inglesa, Youth ironiza o seu título (Juventude), afinal para propor uma viagem amarga e doce pelos sobressaltos do envelhecimento. E porque várias personagens estão ligadas ao mundo do cinema, o filme adquire os contornos de um requiem por um tempo primitivo do espetáculo - Sorrentino não será Fellini, mas e um legítimo herdeiro do seu trabalho.

O caso de Jia Zhang-Ke é mais arriscado e desconcertante. A sua dramatização do tempo envolve um inesperado efeito que apetece classificar de "ficção científica", embora tratado através de um elaborado realismo. Assim, começamos por conhecer dois rapazes e a rapariga com que ambos querem namorar - está-se em 1999 e a perspetiva do novo milénio alimenta a utopia de uma vida diferente. (DN – 21.Maio,2015)

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Viagem ao princípio do mundo.


Se Eu Fosse Ladrão... Roubava, o filme-testamento de Paulo Rocha que agora, já postumamente, chega às salas de cinema, é o fim de uma obra iniciada na década de 1960 com duas obras-primas agora restauradas e também de regresso ao circuito comercial, Os Verdes Anos e Mudar de Vida. Dados a ver em conjunto, estes três filmes iluminam o círculo perfeito da obra do cineasta.
Faz um sentido especial a chegada ao circuito comercial, em simultâneo, do último filme de Paulo Rocha, Se Eu Fosse Ladrão… Roubava, e das suas duas primeiras longas-metragens, Os Verdes Anos e Mudar de Vida, estes dois títulos dados a ver em imaculadas versões recentemente restauradas pela Cinemateca Portuguesa com supervisão do realizador Pedro Costa.
E faz um sentido especial porque, se na obra de Paulo Rocha tudo se liga a tudo, e os seus filmes, mesmo espaçados no tempo, se estão sempre a reencontrar uns aos outros em rimas, ecos e repetições, Se Eu Fosse Ladrão… Roubava, que a dado passo o realizador não pode ter deixado de assumir como um verdadeiro “filme-testamento” ou “filme-súmula”, é uma obra inteiramente centrada nessas ligações, uma obra que atira luz sobre elas, e um filme que, em mais do que um sentido, volta incessantemente ao princípio – inclusive, e tratando da história do pai de Paulo Rocha, a uma origem familiar – para unir, num círculo perfeito, “fim” e “princípio”. Ora, fim e princípio duma obra, em circulo perfeito, é o que a exibição conjunta destes três filmes expõe, e propõe.
Manoel de Oliveira, por sua vez no seu “filme-testamento” há bem pouco tempo revelado publicamente (Visita ou Memórias e Confissões), refere a dado passo a sua admiração por Paulo Rocha, o cineasta português que mais apreciava. Não deixa, já agora, de ser justo notar o simbolismo latente no facto de a apresentação pública do filme de Rocha (depois de exibições no Festival de Locarno e na Cinemateca) suceder tão pouco tempo depois das primeiras exibições públicas deVisita..., como se isso reatasse um diálogo entre os dois. É certo que Rocha retribuía a estima de Oliveira, de quem foi assistente no Acto da Primavera e que talvez tenha sido, com António Reis, quem mais directamente reflectiu a importância matricial desse filme para o moderno cinema português.
Rocha foi um cineasta dos elementos, das tensões “telúricas”, da terra e do mar (como admiravelmente mostra, por exemplo, Mudar de Vida), mas também foi um cineasta da representação e do ritual, dados como chave para a “codificação” (ou “descodificação”) do real. A sua obra será sempre um bom ponto de partida para mostrar a diferença entre o que é ser “realista” (que Rocha foi sempre) e o que é ser “naturalista” (que Rocha nunca foi). A sua predilecção pelas formas da cultura japonesa – o cinema, o teatro, a pintura – mas também pela arte modernista (o seu filme sobre Amadeo de Souza-Cardoso, Máscara de Aço Contra Abismo Azul, feito em 1988) são outras manifestações precisas dessa diferenciação.

Um tempo em conserva


Quando vemos hoje Os Verdes Anos (1963) ou Mudar de Vida (1966), há um apelo muito imediato. O do tempo que ficou “em conserva” nesses filmes, o retrato que eles propõem duma época específica de Portugal. A Lisboa cinzenta dos Verdes Anos, ainda a expandir-se pelo campo em volta, as ruas e os cafés, as vidas dos que vinham do campo para avançar pela cidade, como o sapateiro (Rui Gomes) e a sopeirinha (Isabel Ruth) que compõem o casal protagonista.
Em Mudar de Vida, que não deixa de ser de vários modos um “reflexo” do primeiro filme de Rocha, a província (a região de Ovar, a que o realizador estava familiarmente ligado), as vidas dos pescadores, a sombra da guerra colonial (de onde voltava o protagonista). Tudo isto, toda esta precisão (“sociológica”, se quisermos), o tempo não fez mais do que salientar e reforçar, e este sentido de justeza também é, obviamente, a marca de um grande cineasta.
Mas que não deve esconder outros aspectos, mormente a extraordinária construção dramatúrgica desses filmes, o modo como todos os seus elementos, sobretudo aqueles mais directamente arrancados ao “real” (por exemplo, em Mudar de Vida, a sequência da festa popular), se inserem numa progressão narrativa impecável, alimentada por pulsões e mais pulsões, invisíveis mas pressentidas, e frequentemente de sinal contrário – é essa violência, sanguínea, contraditória, inexplicável, que toma conta do final de Os Verdes Anos, por exemplo, esse filme que acabando embora com a morte é um filme pleno de vida. Nessa perspectiva, Mudar de Vida, sendo mais duro e mais árido do que Os Verdes Anos, é um filme mais optimista, a fazer bem jus ao título: a célebre fala final do protagonista, “ainda temos braços”, é uma promessa de vida, de futuro, um caminho de superação diametralmente oposto ao fechamento, dir-se-ia “subterrâneo”, para que tendem Os Verdes Anos.
Num caso como noutro, e como se verificaria ainda em muitos momentos da obra de Rocha (O Rio do Ouro sendo um caso evidente), esse outro aspecto fundamental da obra do realizador, e que muito directamente cria uma ligação com Acto... de Oliveira, aparece em pleno: o seu interesse pela cultura popular, pelas formas de expressão populares, dadas menos como “documentário” do que como “teatro”, sempre em sofisticação e ritualização. Se eu Fosse Ladrão… Roubava é espantoso, entre outras coisas, pela forma como traz isto para o centro do cinema de Paulo Rocha. 
Mais do que apenas “autobiografia”, e dada a presença nele de uma multitude de excertos de filmes do realizador, é quase um filme de “crítica” – e se não é caso inédito andará lá próximo, mas não nos lembramos de nenhum realizador (nem mesmo Godard, que tanto se tem citado e revisto nos seus últimos filmes) que tenha feito assim, desta maneira, um filme sobre a sua própria obra.
Mas na constante fusão entre a ficção filmada contemporaneamente (a história do pai de Rocha e do seu desejo de “mudar de vida” e partir para o Brasil) e os ecos, muito concretos, trazidos pelos excertos dos seus filmes, é como se o realizador propusesse essa questão, a da expressão popular (as canções, por exemplo), como centro emanador e inspirador do essencial da sua obra.
Assim articulados, não é sem espanto que percebemos que filmes que pareciam tão distantes como, por exemplo, Os Verdes Anos e O Rio do Ouro, se tocam porventura mais do que o que supúnhamos. Ou que entre o cansaço do protagonista de Mudar de Vida e o cansaço de Venceslau de Moraes em A Ilha dos Amores há mais em comum do que julgaríamos.

Se Eu Fosse Ladrão... Roubava é a análise filmada da obra de Rocha que ninguém fez, mas feita como só ele a podia fazer – sem auto-celebração, com ironia, e dando todo o destaque à matéria (actores, paisagens, canções) de que o seu cinema se fez. No fim, a despedida: “Não tenhas medo." Como se a morte fosse só o regresso ao princípio. (Jornal Público – 14.Maio.2015)

terça-feira, 12 de maio de 2015

Fotografias originais de Frida Kahlo pela primeira vez em Portugal.


A exposição de fotografias originais da pintora mexicana Frida Kahlo é apresentada pela primeira vez em Portugal, a partir de sexta-feira, em Cascais.
Intitulada "Fashion icon Frida Kahlo", a mostra, com curadoria de Astrid Sauer, estará patente no CascaisShopping, em Alcabideche, no concelho de Cascais, até 12 de Julho.
A exposição reúne 44 fotografias originais, que "são testemunho de eventos que marcaram não só a pintura e a vida artística de Frida Kahlo mas, sobretudo, a sua maneira de ser e o seu estilo único que influenciou decisivamente, e continua a influenciar, a moda", afirma a organização em comunicado enviado à Lusa.
Segundo a mesma fonte, este conjunto de fotografias "abre uma página da vida íntima da artista, apresenta Frida Kahlo em momentos privados e públicos e revelam a personalidade de uma artista mas, ainda mais, de uma mulher que se tornou o símbolo da força e independência do universo feminino".
As fotografias percorrem as diferentes fases de crescimento da artista mexicana, desde a infância até à idade adulta, e captaram "momentos passados com o seu marido, o artista plástico Diego Rivera, encontros em família e de convívio com os seus amigos".
As fotos de "dimensões variadas" vão estar expostas numa estrutura criada de raiz pelo ateliê de arquitetura LikeArchitects, "que permite apreciar, de uma forma envolvente e quase intimista, os vários registos fotográficos que caracterizam os momentos mais marcantes da vida da artista".
As fotografias, de autoria de Lola Alvarez Bravo, Manuel Alvarez Bravo, Florence Arquin, Lucienne Bloch, Imogen Cunningham, Guillermo Dávila, Gisèle Freund, Héctor García, Juan Guzman, Fritz Henle, Guillermo Kahlo, Leo Matiz, Nickolas Muray, Victor Reyes, Bernard Silberstein, Carl Van Vechten e Edward Weston, fazem parte de uma colecção privada.
Da exposição fazem parte "filmagens de modelos contemporâneos, em 'super slow-motion', que incorporam o estilo contemporâneo da artista, associando-se uma mostra de moda, inspirada no estilo" de Frida Kahlo.
Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón nasceu no dia 06 de Julho de 1907, na cidade de Coyoacàn, nos arredores da capital federal mexicana.
A pintora associou-se desde o início aos ideais da Revolução Mexicana de 1910, a ponto de indicar muitas vezes esta data como a do seu nascimento.
Aos seis anos foi vítima de poliomielite, que tornou a sua perna esquerda mais curta que a direita e, aos 18 anos, um acidente de viação deixou-a quase sem vida, com a coluna vertebral, bacia, a perna e pé direito partidos. Enquanto recuperava no hospital começou a pintar, acabando por se tornar uma artista de referência apreciada fora das fronteiras mexicanas, facto para o qual muito contribuiu a admiração do escritor surrealista francês André Breton.
Kahlo, que expôs nos Estados Unidos e em França, foi a primeira sul-americana a vender um quadro por um milhão de dólares.
A artista plástica que, por duas vezes, se casou com o muralista e propagandista político de Esquerda Diego Rivera, morreu no dia 13 de Julho de 1954, na sua cidade natal, vítima de uma broncopneumonia, depois de, no ano anterior, ter sido sujeita à amputação de uma perna.

Lusa/SOL – 11.Maio.2015

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Cantinflas. Ainda nos rimos com este mexicano?


Durante um mês, a partir de hoje, o mexicano que conquistou o mundo vai estar em destaque. Cinema, exposição e debates num ciclo para conhecer a fundo este humorista.
Nos próximos dias vamos todos perceber se a memória de Cantinflas está datada ou não. Se nos dias de hoje o humor da personagem mexicana que conquistou o mundo ainda é capaz de chegar a novos públicos. A embaixada do México oferece à cidade de Lisboa um Ciclo de Cine Mexicano dedicado ao ator Mario Moreno, o mítico ator que se fundiu com a personagem. De amanhã a 4 de junho, o Instituto Cervantes será a casa de Cantinflas numa série de projeções com legendas em português das imortais comédias.

Os filmes escolhidos nesta homenagem a Moreno vão desde 1940 a 1967, tentando construir um arco cronológico. Tudo começa com Cantinflas em Calças Pardas (1940), de Juan Bustillo Oro, a primeira longa em que Moreno começava a confundir-se com a personagem. Uma história de identidades trocadas em que Cantinflas é tratado como um rei. O ciclo prossegue no dia 12 com um dos clássicos de Cantinflas: O Gendarme Desconhecido (1941), o primeiro realizado pelo cineasta preferido de Moreno, Michel M. Delgado. A partir daqui, a fama deste tipo de humor familiar e profundamente humano tornava-se global. (DN - &.Maio.2015)