sexta-feira, 22 de maio de 2015

A China de Jia Zhang-Ke em três tempos.


O filme de Jia Zhang-Ke distingue-se por dar a ver os temas e interrogações da evolução da sociedade chinesa.
É bem verdade que o cinema nos ajuda a reavaliar as medidas do tempo. Por vezes, refletindo sobre conjunturas presentes de perturbante dramatismo, como acontece em Sicario, do canadiano Dennis Villeneuve, apostado em renovar um género - o thriller em torno das guerras da droga na fronteira México/EUA - muito explorado pela produção americana. Outras vezes, baralhando aquelas medidas e, no limite, questionando os sentidos e valores da nossa existência. Assim acontece em mais dois títulos marcantes da competição de Cannes: Mountains May Depart, do chinês Jia Zhang-Ke, e Youth, do italiano Paolo Sorrentino.
Este último e o projeto desenvolvido por Sorrentino logo após a consagração do seu anterior A Grande Beleza, Oscar de melhor filme estrangeiro de 2014. Agora, rodeou-se de um elenco invulgar - em que se destacam os veteraníssimos Michael Caine, Harvey Keitel e Jane Fonda - por assim dizer celebrando a sua internacionalização. Falado em língua inglesa, Youth ironiza o seu título (Juventude), afinal para propor uma viagem amarga e doce pelos sobressaltos do envelhecimento. E porque várias personagens estão ligadas ao mundo do cinema, o filme adquire os contornos de um requiem por um tempo primitivo do espetáculo - Sorrentino não será Fellini, mas e um legítimo herdeiro do seu trabalho.

O caso de Jia Zhang-Ke é mais arriscado e desconcertante. A sua dramatização do tempo envolve um inesperado efeito que apetece classificar de "ficção científica", embora tratado através de um elaborado realismo. Assim, começamos por conhecer dois rapazes e a rapariga com que ambos querem namorar - está-se em 1999 e a perspetiva do novo milénio alimenta a utopia de uma vida diferente. (DN – 21.Maio,2015)

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