O
filme de Jia Zhang-Ke distingue-se por dar a ver os temas e interrogações da
evolução da sociedade chinesa.
É
bem verdade que o cinema nos ajuda a reavaliar as medidas do tempo. Por vezes,
refletindo sobre conjunturas presentes de perturbante dramatismo, como acontece
em Sicario, do canadiano Dennis Villeneuve, apostado em renovar um género - o
thriller em torno das guerras da droga na fronteira México/EUA - muito
explorado pela produção americana. Outras vezes, baralhando aquelas medidas e,
no limite, questionando os sentidos e valores da nossa existência. Assim
acontece em mais dois títulos marcantes da competição de Cannes: Mountains
May Depart, do chinês Jia Zhang-Ke, e Youth, do italiano Paolo Sorrentino.
Este
último e o projeto desenvolvido por Sorrentino logo após a consagração do seu
anterior A Grande Beleza, Oscar de melhor filme estrangeiro de 2014. Agora,
rodeou-se de um elenco invulgar - em que se destacam os veteraníssimos Michael
Caine, Harvey Keitel e Jane Fonda - por assim dizer celebrando a sua
internacionalização. Falado em língua inglesa, Youth ironiza o seu título (Juventude),
afinal para propor uma viagem amarga e doce pelos sobressaltos do
envelhecimento. E porque várias personagens estão ligadas ao mundo do cinema, o
filme adquire os contornos de um requiem por um tempo primitivo do espetáculo -
Sorrentino não será Fellini, mas e um legítimo herdeiro do seu trabalho.
O
caso de Jia Zhang-Ke é mais arriscado e desconcertante. A sua dramatização do
tempo envolve um inesperado efeito que apetece classificar de "ficção
científica", embora tratado através de um elaborado realismo. Assim,
começamos por conhecer dois rapazes e a rapariga com que ambos querem namorar -
está-se em 1999 e a perspetiva do novo milénio alimenta a utopia de uma vida
diferente. (DN – 21.Maio,2015)
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