Parece
não haver dúvidas de que a última fotografia que Robert Capa (1913-1954)
disparou, naquele malfadado dia 25 de Maio de 1954, na localidade vietnamita de
Thai Binh, foi feita a preto-e-branco. Mas também é verdade que aquele que
ficou para a História como “o maior repórter do mundo” tinha consigo duas
máquinas fotográficas, como, de resto, acontecia desde há uma década no seu
trabalho. E se a arte, a filosofia e a posteridade da criação fotográfica de
Capa ficaram para sempre associadas ao preto-e-branco, desde aquele icónico
instantâneo que registou o momento mesmo da morte do miliciano Federico Borrel
nos arredores de Córdova, em 1936, no início da Guerra Civil em Espanha, também
se sabe desde há algum tempo que o repórter nascido na Hungria também cultivou
a cor.
A
“revelação” surgiu, com alguma surpresa na altura, no final de 2013, quando o International Center of Photography, organismo fundado em
1974 pelo seu irmão Cornel, anunciou a realização de uma primeira exposição em
Nova Iorque sobre essa faceta da obra de Robert Capa. Uma nova selecção dessas
fotografias a cores – de um espólio com mais de quatro mil negativos – está
agora a ser mostrada pela primeira vez na Europa, na cidade natal do repórter,
no Robert Capa Center de
Budapeste.
“Para
o Governo húngaro, é essencial mostrar ao mundo o património fotográfico
húngaro e mostrar a forma como a visão dos artistas húngaros influenciou a
história do século XX”, disse Péter Hoppál, ministro da Cultura do país aquando
da apresentação da exposição, citado pelas agências informativas.
Mas
a verdade é que a fotografia de Capa escapa a qualquer apropriação ou
fronteira. Mesmo quando, como acontece com a presente mostra de imagens, o
repórter parece repousar em lugares e registos da vida mundana – as férias em
família de Pablo Picasso ou Ernest Hemingway; a burguesia internacional nas
estâncias de esqui nos Alpes suíços ou nas praias de França; os desfiles de
moda em Paris com a Torre Eiffel em fundo; as stars de Hollywood
captadas fora do plateau, incluindo Ingrid Bergman, de que se conhece o
idílio frustrado com o fotógrafo… – bem distantes desse confronto físico entre
a vida e a morte que Capa viveu e testemunhou nas frentes das grandes batalhas
do século XX, da Guerra Civil de Espanha à Segunda Guerra Mundial, de Israel à Indochina... (Jornal Público)