A
Casa Manoel de Oliveira, no Porto, vai ser a sede na Europa da Fundação Sindika
Dokolo. O edifício construído por Eduardo Souto de Moura para o cineasta, mas
que nunca foi usado, foi vendido esta segunda-feira por 1,58 milhões de euros a
uma empresa denominada Supreme Treasures, Ld.ª, ligada à empresária angolana
Isabel dos Santos, casada com Sindika Dokolo. Em comunicado, o empresário diz
que o edifício será “um espaço de reflexão e aprendizagem para jovens artistas”
No
ano passado, a Fundação Sindika Dokolo apresentou no Porto a exposiçãoYou
love me, you love me not, e no
momento do balanço foi revelado que a fundação pretendia instalar na
cidade a sua nova “antena mundial”. Na altura, a Casa Manoel de Oliveira era
apontada como uma das possibilidades para a instalação desse braço da estrutura
cultural de Sindika Dokolo, a par com o Palacete Pinto Leite ou o Palácio das
Artes da Fundação da Juventude. Agora, o empresário confirma que a escolha
recaiu sobre a casa que Manoel de Oliveira nunca usou.
“Ao
estabelecermo-nos num edifício como a Casa Manoel de Oliveira, em plena Foz
portuense, estamos a afirmar a nossa intenção em contribuir para tornar o Porto
ainda mais cosmopolita e mais cultural. Neste espaço vamos promover redes de
reflexão artística e fortalecer laços entre Portugal e Angola, a Europa e
África, numa ode à Arte enquanto elemento unificador de povos e países”,
referiu Sindika Dokolo, num comunicado enviado ao PÚBLICO.
Na
hasta pública, que decorreu na manhã desta segunda-feira nos Paços do Concelho,
a Supreme Treasures esteve representada pelo advogado Diogo Duarte Campos, que,
segundo a Lusa, não quis prestar quaisquer esclarecimentos sobre os rostos por
trás da empresa, invocando o “dever de sigilo profissional”. Contudo, de acordo
com os registos oficiais, a empresa, constituída em Setembro do ano passado,
com o curto capital de mil euros, tem como gerente Mário Filipe Moreira Leite
da Silva, que representa os interesses de Isabel dos Santos nos negócios
europeus.
Ao
longo do dia, a Câmara do Porto garantiu sempre desconhecer quem comprara a
casa e qual o uso que lhe seria dado e, depois da confirmação de Sindika Dokolo
de que o edifício seria a sede da sua fundação na Europa, o presidente Rui
Moreira não esteve disponível para comentar, por se encontrar numa reunião de
trabalho sobre o futuro da STCP. Contudo, de manhã, questionado pelos
jornalistas à saída dos Paços do Concelho, Rui Moreira disse que gostaria que a
casa tivesse uma “componente cultural”, mostrando-se aliviado por se resolver o
problema do “abandono” do edifício.
"É
uma casa da autoria de Souto de Moura, portanto tem desde logo um impacto
relevante na cidade do ponto de vista arquitectónico e era um activo que estava
perdido porque o uso para que foi concebido nunca foi concretizado e não foi
com certeza por culpa da câmara municipal", disse.
A
Casa Manoel de Oliveira, composta por duas fracções, foi construída há quase
duas décadas com o objectivo de ser a casa do cineasta e também um espaço de
exposição do seu espólio. Contudo, o projecto avançou sem um acordo prévio
entre a autarquia e o realizador de Aniki-Bóbó, quanto às condições de uso
do imóvel, e desde a sua conclusão, em 2003, que o edifício permanece devoluto.
Em
2007, Manoel de Oliveira acusou o executivo de Rui Rio do fracasso da
constituição da casa-museu e já em 2013, a Fundação
de Serralves e a sua família assinaram um protocolo para instalar o espólio do
cineasta num edifício que será idealizado pelo arquitecto Álvaro Siza para o
Parque de Serralves. Em 2014, a Câmara do Porto, já sob a presidência de Rui
Moreira, tentou vender o imóvel pela primeira vez, mas a hasta pública ficaria
deserta.
Agora,
o edifício irá receber a sede da fundação criada em 2003 na capital angolana,
Luanda, com o objectivo de promover a arte. Com um espólio de cerca de três mil
obras, da autoria de 90 artistas de 25 países, a fundação foca-se, sobretudo,
na arte contemporânea e já esteve presente em certames como a ARCO (Madrid), a
Bienal de Veneza (Itália) ou o Espaço OCA, em S. Paulo (Brasil).
Em Março de 2015, antes de
apresentar no Porto a exposição You love me, you love me not, Sindika
Dokolo recebeu da câmara a medalha municipal de Mérito, Grau Ouro.
(Jornal Público – 19.Jan.2016)
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