quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

EUA preparam-se para novo recorde no cinema em 2013, o mundo e a China crescem e Portugal cai...


Homem de Ferro 3 foi o sucesso nos EUA, que sonha chegar aos 11 mil milhões de dólares de receitas de bilheteira. Portugal perde espectadores mas tem uma Gaiola Dourada.
s bilheteiras dos EUA continuam a dar apenas um sinal: os blockbusters, com a aliança entre o gigante dos comics Marvel e a Disney à cabeça, são ainda o segredo do sucesso. E dos recordes. Pelo segundo ano consecutivo, um super-filme Marvel foi o mais visto nos EUA — Homem de Ferro 3 sucede aosVingadores e contribuiu para que as receitas do box office americano cheguem aos 11 mil milhões de dólares. Em Portugal, o cenário é bem menos optimista: perdeu-se mais de um milhão de espectadores e produziu-se muito, muito pouco cinema.
Nos EUA, ainda o grande exportador mundial de cinema para consumo de massas, as expectativas são altas: até à meia-noite desta terça-feira, as previsões citadas pela Variety indicam que se baterá então novo recorde de receita de bilheteira, apesar de o número de espectadores não estar em crescendo — o preço dos bilhetes é que está e a quantidade de pessoas que foi ao cinema manteve-se em relação a 2012. E muitas foram mesmo ver osblockbusters e seus derivados em franchise, ingredientes do modelo de negócio que alguns temem vá vitimar a indústria norte-americana.
No ano passado, ultrapassaram-se os oito mil milhões de euros de receitas de bilheteira graças a Os Vingadores, ao primeiro tomo de O Hobbit e à adaptação de Os Miseráveis. Em 2013, espera-se que os números atinjam pela primeira vez os 11 mil milhões de dólares nos EUA (que ao câmbio actual acabam por ser inferiores a 2012 em euros — 7,9 mil milhões). O filme que arrasou quarteirões foi mesmo Homem de Ferro 3, com mais de 871 milhões de euros de receitas em todo o mundo e o mais rentável do box office norte-americano. É um sucesso fruto do que o analista do Guardian, Phil Hoad, chama a “abordagem de fertilização cruzada” da Marvel, visto que Homem de Ferro é um dos Vingadores, filão também explorado este ano nas salas com o segundo Thor.
No que toca ao mercado mundial, as estimativas em termos de receitas brutas de bilheteira são de 4 ou 5% de crescimento em relação a 2012, muito graças à vitalidade do consumo na China, atenta ainda a Variety. Nos dez filmes mais vistos na China este ano estão quatro blockbusters e/ou franchisesamericanos (Homem de Ferro 3, Gravidade, Velocidade Furiosa 6, Batalha do Pacífico) mas também seis filmes chineses, com Homem de Ferro 3 em segundo lugar num mercado dominado em 2013 por Journey to the West: Conquering the Demons, uma comédia de acção baseada no clássico da literatura chinesa homónimo. De acordo com o Guardian, focado no número de espectadores nas salas e não nas receitas de bilheteira, a China será o maior mercado mundial de cinema em 2018.
A Gaiola portuguesa
Em Portugal, o francês A Gaiola Dourada, de Ruben Alves, é o filme mais visto do ano e o sétimo mais visto na última década nos cinemas portugueses. Foi o único título deste ano a entrar na lista dos 40 mais vistos entre 2004 e 2013, segundo dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) que contabilizam o período até 30 de Dezembro, com mais de 756 mil espectadores e 3,8 milhões de euros de receitas brutas de bilheteira. No topo desta lista estão o imbatível Avatar, de James Cameron, com 1,2 milhões de espectadores em 2009, seguido do musical Mamma Mia!, com 851 mil espectadores em 2008, e da animação Shrek O Terceiro, de 2007, com 824 mil bilhetes vendidos.
O ano de 2013 foi agitado — e não pelos melhores motivos — no cinema português. A produção teve os seus resultados mais baixos na última década, com apenas 19 títulos produzidos — dos quais quatro longas-metragens de ficção, cinco longas documentais e apenas duas curtas de animação. Em 2012, por exemplo, produziram-se 39 títulos, já de si um valor baixo quando o resto da década nunca caiu abaixo dos 48 filmes. Reflexos do ano zero do cinema português, quando não abriram concursos para apoios públicos ao sector, e talvez um prenúncio do que pode ser 2014, porque 2013 foi um ano marcado pelo não pagamento da taxa anual pelos operadores de TV por subscrição, que assim deixaram de fora das contas de 2013 cerca de 11 milhões de euros que se destinariam em parte aos apoios públicos à produção.
A acentuada quebra nas bilheteiras, que pode ter tido em Dezembro e nas estreias de Natal como O Hobbit: A Desolação de Smaug ou na saga The Hunger Games: Em Chamas salva-vidas de última hora, era até ao final de Novembro de 11,7%. Ou seja, venderam-se menos 1,4 milhões de bilhetes e perdeu-se quase um milhão e meio de espectadores nas salas nos primeiros 11 meses do ano. Em Janeiro, com as contas de 2013 fechadas pelo ICA, a lista dos mais vistos e do número de espectadores deverá sofrer ainda algumas alterações. Se A Gaiola Dourada parece imune a quaisquer recém-chegados, seguida pelos 426 mil espectadores que foram ver Velocidade Furiosa 6 ao cinema, Gru – O Maldisposto 2 e A Ressaca – Parte III, em terceiro e quarto lugares até Novembro, já foram suplantados por Frozen – O Reino do Gelo e pelo português 7 Pecados Rurais, ambos estreias de Dezembro que até ao dia de Natal tinham já chamado às salas 297 mil e 259 mil pessoas, respectivamente. O segundo capítulo de O Hobbit foi visto nas salas por 183 mil espectadores nas suas duas primeiras semanas de exibição.
De acordo com os números mais recentes do ICA, estrearam-se em Portugal, até dia 29, 20 longas-metragens de produção portuguesa — entre elas 7 Pecados Rurais, de Nicolau Breyner, Comboio Nocturno para Lisboa, de Billie August, e RPG, de Tino Navarro e David Rebordão, os três mais vistos da listagem.

Durante alguns meses, vários distritos e cidades ficaram sem oferta de cinema comercial de estreia simultânea, o que pode ter influído em parte no comportamento do box office português. Com o encerramento de 70 salas da portuguesa Socorama por todo o país, reabrindo 54 delas pelas mãos do novo exibidor brasileiro Orient Cineplace, mais algumas perdas de salas emblemáticas da capital (Londres, King, por exemplo) e a abertura de dois ecrãs low-cost no Saldanha Residence, o mercado de exibição mudou de rosto. Continuando a ser dominado pela portuguesa Zon, tem agora como segundo maior nome a Orient Cineplace, seguida pela UCI. (Jornal Público)

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