A
notícia de que tinha sido identificado um quadro “novo” de Da Vinci (1452-1519)
já era conhecida, pelo menos, desde a exposição que a National Gallery de
Londres dedicara ao mestre do Renascimento, Leonardo da Vinci – Pintor da
corte de Milão, entre Novembro de 2011 e Fevereiro de 2012. Depois dessa
mostra, o pequeno quadro (65,6 x 45,5 cms.) representando CristoSalvator Mundi (c.
1500) fora também exibido, por empréstimo, no Museu de Arte de Dallas, nos EUA.
O
que não se sabia, e agora foi noticiado pelo The New York Times, é
que essa obra foi vendida, em Maio de 2013, num leilão da Sotheby’s em Nova
Iorque, por uma soma entre os 75 e os 80 milhões de dólares (54,6 a 58,2
milhões de euros) a um comprador privado não identificado.
Esta
quantia ganha ainda maior relevância quando se sabe que o mesmo quadro, cuja
história está ainda por reconstituir no seu percurso completo, fora vendido, em
1958, em Inglaterra, na sequência de partilhas de descendentes de um aristocrata
britânico, por… 45 libras esterlinas (perto de 55 euros).
No
momento da venda, revelada no dia 3 de Março pelo diário norte-americano – e
depois também noticiada pelo francês Le Monde –, esteSalvator Mundi pertencia
a dois historiadores e negociantes de arte de Nova Iorque, Robert Simon e
Alexander Parish, que o tinham adquirido, em meados da década de 2000, por um
valor que também não foi quantificado.
De
qualquer modo, estes dois sócios e especialistas em arte acabaram por merecer a
mais-valia da sua convicção de que se estava, de facto, perante uma obra
autógrafa de Da Vinci e não apenas de uma qualquer reprodução – que, neste
caso, tinha sido mesmo atribuída a um aluno da oficina do mestre italiano,
Giovanni Antonio Boltraffio (c. 1466-1516).
Quando
adquiriram a tela, Simon e Parish acreditaram que a sua superfície, que
mostrava sucessivas camadas de pintura e se encontrava bastante deteriorada,
escondia o traço original do mestre. Para testarem essa sua convicção,
submeteram o quadro a uma cuidada investigação, que envolveu dezena e meia de
especialistas em Da Vinci, tanto dos EUA como de Inglaterra e de Itália, bem
como instituições como a National Gallery de Londres e de Washington, o
Metropolitan Museum de Nova Iorque e ainda as universidades de Florença e de
Milão.
O
veredicto final confirmou o prognóstico de Simon e Parish, e depois da
exposição em Londres, o Museu de Arte de Dallas pediu o quadro emprestado para
o exibir nessa cidade e, no final, quis mesmo adquiri-lo.
Segundo
o NYT, o autor da revelação da venda de Salvator Mundi em Maio
passado foi o negociante de arte londrino Anthony Crichton-Stuart, que comentou
para o jornal nova-iorquino: “É preciso contrabalançar o seu estado de
deficiente conservação com o facto de se tratar de uma obra de um dos nomes
mágicos e mais significativos do cânone da arte ocidental, pelo que, nesse
sentido, parece-me que o preço foi justo”.
Seguindo
a tradição e o protocolo do negócio, a Sotheby’s recusou fazer qualquer
comentário sobre a venda, e, ao NYT, Robert Simon limitou-se a dizer que a
pintura de Da Vinci “já não se encontra disponível”.
Ao
reconstituir a história possível do quadro - que representa um tema da
iconografia cristã que Da Vinci e outros mestres da pintura trataram em
diferentes momentos -, o Le Monde avança que ele terá pertencido ao
rei de Inglaterra Carlos II (século XVII), tendo depois sido também propriedade
do duque de Buckingham.
É
importante lembrar que esta identificação e autenticação de uma obra de Da
Vinci surge mais de um século depois da última, que tinha sido realizada
relativamente ao grande mestre italiano, com a Virgem Benois (1475-78),
pertencente à colecção do Museu Ermitage de São Petersburgo, na Rússia. (Jornal
Público – Março 2014)
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