Quando
o seu pai morreu, Helen Macdonald comprou um açor. H is for Hawk conta
essa história pessoal.
Não
é um guia de como treinar o seu açor mas é sobre isso que trata o livro de
Helen Macdonald que lhe valeu o Prémio Costa para Livro do Ano, uma das
distinções mais prestigiadas no Reino Unido. H is for Hawk no início
do mês já tinha sido premiado na categoria de melhor biografia e foi
considerado pelo júri como uma obra maravilhosa e impossível de se esquecer. Em
Novembro, H is for Hawk já tinha dado à escritora britânica o prémio
literário Samuel Johnson na categoria de não-ficção.
H
for Hawk é um livro que explora o luto, o amor e a natureza. É a
história de como Helen Macdonald, uma académica britânica, ultrapassou a morte
do pai ao dedicar-se a um açor que comprou a um criador escocês. É a
experiência pessoal da escritora que encontrou na ave uma forma de ocupar a sua
cabeça.
Ao The
Guardian, o escritor Robert Harris, que presidiu ao júri do prémio Costa, disse
que H is for Hawk é um livro que não se esquece. “Todos concordámos
que era maravilhoso, a sua prosa é maravilhosa, tem músculo e é precisa como um
bisturi”, defendeu o presidente do júri. “Há alguns livros que vencem prémios
porque se impõem mas depois o público parece não gostar muito. Já este é um
livro que eu acho que toda a gente vai gostar”, destacou ainda o escritor.
Helen
Macdonald bateu a britânica Ali Smith que era apontada como uma das grandes
favoritas com o livro que tinha vencido na categoria de romance, How to Be
Both, em que cruza a história de uma adolescente que perdeu a mãe e a de
Francesco del Cossa, pintor renascentista. Concorriam ainda Jonathan
Edwards que venceu na poesia com My Family and Other Superheroes; Emma
Healey que foi premiada na categoria de primeira obra (Elizabeth is Missing) e
Kate Saunders com o livro infantil Five Children on the Western Front. Agora H
for Hawk foi considerada o Melhor Livro de 2014, valendo à escritora 30
mil libras (cerca de 40 mil euros) – o valor monetário do Prémio Costa.
À
BBC, a escritora que é também investigadora associada do departamento de
História e Filosofia da Ciência da Universidade de Cambridge mostrou-se
surpreendida, explicando que quando escreveu H is for Hawk não
considerou que alguém o viesse a querer ler por ser “um livro muito estranho”.
“Estou tão agradecida ao júri”, disse Helen Macdonald. “Estou absolutamente
encantada, surpresa e estupefacta, é maravilhoso”, reagiu a escritora, que além
de investigadora é também ilustradora e naturalista.
Sobre
o livro, Macdonald definiu-o como uma “carta de amor à Inglaterra rural”. “E a
tudo o que perdemos e estamos a perder.” Foi a forma que a britânica encontrou
para lidar com a morte do pai em 2007 e para ir de encontro a uma paixão de
infância – ainda em criança dizia que queria ser falcoeira. É por isso à
Reuters Helen Macdonald explicou que esta foi a “verdadeira despedida” do seu
pai. “Foi catártico e não achei que fosse.”
A
autora explica o sucesso inesperado de H is for Hawk com a longa
tradição que existe no Reino Unido de livros sobre as relações de pessoas com a
natureza e os animais. “Este pássaro que as pessoas pensam ser um símbolo de
selvageria e ferocidade é na verdade tanto uma criatura assassina como algo que
brinca com o gatinho e vê televisão comigo”, contou Macdonald, explicando que a
obra não é apenas biográfica. Ao mesmo tempo que a escritora escreve a sua
história, narra também a vida do escritor T.H. White, que em 1951 publicou
The Goshawk, livro onde contava as suas experiências de treinar aves.
Criados em 1971, com a designação de Whitbread
Book Awards, os prémios Costa, limitados a autores radicados no Reino Unido ou
na Irlanda, e patrocinados desde 2006 pela cadeia de lojas de café e cafetarias
Costa Coffee (uma subsidiária da Whitbread), são atribuídos em cinco
categorias: romance, primeiro romance, poesia, biografia e livro infantil. Cada
um dos escolhidos é premiado com cinco mil libras (6,7 mil euros), e um deles é
depois escolhido como o livro do ano. No ano passado, o vencedor do Prémio
Costa foi Nathan Filer com The Shock of the Fall, publicado em
Portugal pela Relógio D'Água com o título O Choque da Queda. (Jornal
Público)