Há
mais um país determinado a interditar a exibição de Exodus: Gods and Kings:
os Emirados Árabes Unidos (EAU) anunciaram na terça-feira que o novo filme de
Ridley Scott, um fresco bíblico sobre a longa jornada de Moisés e do povo judeu
através do Egipto, não será exibido nas salas de cinema do país devido a
"erros históricos e religiosos". "O filme nega que Moisés seja
um profeta e redu-lo ao estatuto de um pregador pela paz", justificou o
director do National Media Council dos EAU, Juma Obaid al-Leem, citado pela
AFP, acrescentando que "a narrativa de Ridley Scott contraria a versão dos
factos que está inscrita na Bíblia.
Depois
de Marrocos e do Egipto, os EAU são o terceiro país a proibir a projecção de Exodus, uma produção que custou
mais de 140 milhões de dólares (cerca de 115 milhões de euros) mas que rendeu
já cerca de um sexto desse montante só no primeiro fim-de-semana de exibição
nos Estados Unidos.
Embora
seja um fenómeno relativamente raro nos EAU, a interdição de um filme está
prevista na lei, nomeadamente nos casos em que haja ofensa à religião oficial
do país, o islamismo. Esse é, de resto, um dos argumentos invocados pelo
National Media Council para defender a decisão agora tomada: "Não
permitimos a distorção das religiões (...). Quando se trata de filmes históricos
ou religiosos, estamos atentos ao relato, que deve ser correcto, e temos o
cuidado de impedir que as imagens possam ferir os sentimentos de
terceiros", sublinhou al-Leem, explicando que Exodus viola um
dos mandamentos mais irrevogáveis da religião muçulmana, que proibe
expressamente a representação de Deus. "É perfeitamente normal que
exprimamos as nossas reservas sobre um filme em cada mil", disse ainda o
responsável, desvalorizando o impacto mediático deste acto de censura num país
em que a esmagadora maioria da população (mais de 90% dos habitantes dos
emirados são expatriados) não tem qualquer vínculo com a religião muçulmana.
Razões
semelhantes foram invocadas no Egipto, onde o ministro da Cultura, Gaber
Asfour, convocou uma conferência de imprensa na passada sexta-feira, 26, para
informar que a comissão especial encarregue de aprovar a exibição deExodus se
tinha decidido unanimemente pela sua interdição. Asfour, que presidiu
pessoalmente aos trabalhos da comissão (composta, entre outros elementos, pelo
director dos serviços de censura egípcios e por historiadores), alegou que o
filme de Ridley Scott "faz de Moisés e dos judeus os construtores de
pirâmides, contrariando a investigação histórica": "É um filme
sionista por excelência. Apresenta os factos de um ponto de vista sionista e
contém uma falsificação da história", disse à AFP. A comissão especial que
avaliou o filme censurou particularmente a cena da divisão do Mar Vermelho:
"No filme, Moisés tem uma espada e não um bastão, e a divisão das águas é
atribuída a um fenómeno natural de avanço e recuo das marés", criticou
Mohamed Afifi, chefe do Conselho Supremo para a Cultura.
Dias
antes, em Marrocos, as salas de cinema de todo o país receberam indicações
orais para desprogramar a exibição de Exodus, cuja estreia estava prevista
para 24 de Dezembro. Argumentando que o filme tinha obtido um visto de exibição
em condições perfeitamente legais, uma sala de cinema de Marraquexe, o Colisée,
continuou a projectar o filme até sábado, dia em que o Centro de Cinematografia
Marroquino (CCM) emitiu finalmente uma ordem escrita decretando a proibição do
filme na sequência de uma decisão unânime de uma comissão de apreciação.
Tal como nos EAU, a violação dos preceitos
islâmicos foi a razão invocada: "Ridley Scott representa Deus na figura de
uma criança, no momento da revelação divina feita a Moisés. Essa representação
física é um erro." Entretanto, em declarações à revista TelQuel, o director do CCM explicou que a interdição de Exodus se
devia também a "motivos de segurança": "Viram o que se passou na
Tunísia após a exibição do filme Persépolis. O turismo continua a
ressentir-se disso até hoje", lembrou, aludindo à violência de islamistas
radicais na sequência da difusão do filme de Marjane Satrapi e Vincent
Paronnaud em Outubro de 2012 por uma cadeia privada tunisina. (Jornal Público –
02.Jan.2015)
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