Uma
exposição no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, patente até 6 de Abril,
exibe todo o génio e versatilidade do realizador de "A Canção de
Lisboa". A entrada é livre.
A
grande rosa-dos-ventos no chão e o luminoso panorama da beira-rio não deixam
perceber facilmente a verdadeira lufada de ar fresco que — por paradoxal que
possa parecer — sobrevém da cave do Padrão da Descoberta (sua
designação inicial, mais renascentista) onde está patente uma pequena mas
surpreendente exposição “Os arquitectos são poetas também”, dedicada a José
Ângelo Cottinelli Telmo (1897-1948) — co-criador do próprio edifício, na sua
versão efémera e ligeiramente menor, só madeira e estuque.
O
apreço dos responsáveis do Padrão dos Descobrimentos pela figura do seu
arquitecto vai ao ponto de exibir no seu auditório, em sessões contínuas, o
recente documentário de António-Pedro Vasconcelos e Leandro Ferreira (Uma Vida
Interrompida, 2013, 55′) sobre o realizador de A Canção de Lisboa, no qual
intervém amiúde o arquitecto João Paulo Martins, o comissário desta exposição
que dedicou em 1995 a sua tese de mestrado a Cottinelli (ainda inédita),
beneficiando do acesso ao seu espólio, actualmente conservado no forte de
Sacavém, onde aguarda inquirições. Vários documentos expostos vieram de lá.
Arquitecto-chefe
da Exposição do Mundo Português, Cottinelli pode e deve ser colocado, sem
favor, ao nível de Almada Negreiros (de quem se revelam desenhos ainda inéditos
na Fundação EDP, ali perto) pela sua excepcional e precoce criatividade
multimédia, ou de Leitão de Barros e Carlos Botelho, dois outros enormes,
polifacetados e prolixos talentos artísticos — aliás muito subestimados —, e
com quem mais fez o seu caminho, desde que frequentaram juntos o Liceu Pedro
Nunes e a Escola de Belas-Artes na década de 1910.
Em
Fevereiro de 1917, meses antes de a companhia de Bailados Russos de Diaghliev
ter aberto uma fina e breve brecha civilizacional na pasmaceira lisboeta — um
desenho inédito sobre esses bailados é, precisamente, uma das surpresas da
exposição —, Leitão de Barros publicou na efémera e esquecida revistaSphinx (Esfinge)
um elogio de José Telmo, chamando-lhe “grande Fenómeno de Arte”, “desenhador,
poeta, actor, diseur e músico”, “em tudo original, em tudo
interessante e profundo, em tudo um grande esteta da Cor, do Som e da Vida. […]
Fixem-lhe o nome, esperem-no impacientemente”.
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