quinta-feira, 27 de junho de 2013

Homem de Aço.



Título original: Man of Steel
Género: Acção, Aventura
Classificação: M/12
Outros dados: EUA, 2013, Cores, 143 min.
Links: Site Oficial
Clark chegou à Terra ainda bebé, proveniente de um planeta longínquo chamado Krypton. Com a sua origem mantida em segredo, foi criado por Martha e Jonathan Kent, que se dedicaram de corpo e alma à sua educação. Agora, já adulto, vive angustiado por um constante sentimento de não-pertença a uma raça que não é a dele, questionando a origem dos seus poderes, que gradualmente se têm fortalecido. É então que, a viver numa cidade devastada pela criminalidade e corrupção, descobre a finalidade da sua própria existência ao criar o Super-Homem, um justiceiro sobre-humano capaz de restaurar a paz e o equilíbrio ao planeta que o acolheu.

Com argumento de David S. Goyer (guionista de "Batman: O início") e produção de Christopher Nolan ("A Origem", "O Cavaleiro das Trevas"), um filme de acção e aventura realizado por Zack Snyder (“O Renascer dos Mortos”, “300” e “Watchmen - Os Guardiões”), sobre um dos mais reconhecidos super-heróis da DC Comics. No elenco, Henry Cavill, Amy Adams, Diane Lane, Kevin Costner, Michael Shannon, Russell Crowe e Laurence Fishburne, entre outros. PÚBLICO


domingo, 23 de junho de 2013

A casa com que Aristides de Sousa Mendes sempre sonhou.


A casa de Aristides de Sousa Mendes, mais conhecida como a Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, vai finalmente ser restaurada. Depois de vários anos ao abandono, a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) anunciou nesta quinta-feira, numa cerimónia de homenagem ao “Cônsul de Bordéus”, que em breve vão começar os trabalhos de recuperação.
O dia foi de festa e de homenagem ao homem que durante a Segunda Guerra Mundial passou o visto a mais de 30 mil pessoas, permitindo que estas pudessem fugir aos terrores do Holocausto.
Foi aliás por causa de um destes sobreviventes que nesta quinta-feira se reuniram centenas de pessoas em Cabanas de Viriato. Eric Moed, um arquitecto norte-americano, ficou a saber no ano passado que Aristides de Sousa Mendes tinha passado o visto ao seu avô. Na mesma altura estava a preparar o projecto final de curso.
“E foi então que tudo fez sentido. Assim que o meu avô me contou a sua história, eu quis saber mais sobre Aristides de Sousa Mendes. Quando vi a Casa do Passal completamente destruída, percebi que esse seria o meu projecto”, contou ao PÚBLICO o arquitecto de 25 anos. O resultado final do seu trabalho é uma instalação à entrada da destruída casa. O objectivo é não só lembrar o acto heróico do cônsul, como também alertar para o estado de degradação da casa, já com parte do telhado destruído.
O plano do arquitecto parece ter resultado e os trabalhos de restauro vão começar ainda este ano, como anunciou o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, que, apesar de não ter estado presente na homenagem, enviou uma mensagem. O objectivo, segundo as palavras do secretário de Estado, é que a Casa do Passal seja no futuro um espaço onde o passado e o futuro se encontrem para que “aprendamos a dizer: ‘Nunca mais’.”

“Temos de ter a capacidade de aprender com a história.” A notícia foi recebida pela população com um entusiasta e longo aplauso. “Finalmente”, gritou-se.

terça-feira, 18 de junho de 2013

"Minimuseu" homenageia Aristides de Sousa em Cabanas de Viriato.


O arquiteto americano Eric Moed está a ultimar um "minimuseu temporário", em Cabanas de Viriato, que tem como objetivo homenagear Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português que resgatou 30 mil pessoas do Holocausto, entre os quais alguns familiares.
A estrutura em acrílico, dividida em três partes, está a ser montada há cerca de três semanas em Cabanas de Viriato, no concelho de Carregal do Sal, na entrada principal daquela que foi a casa de Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português em Bordéus durante a Segunda Guerra Mundial.
Eric Moed é o autor do projeto, a inaugurar quinta-feira, que serve para prestar homenagem ao diplomata português que salvou os seus avô e bisavó, passando-lhes um visto que permitiu entrada em Portugal.
"Fiquei a saber pelo meu avô que ele e o meu bisavô eram sobreviventes do Holocausto. Há cerca de dois anos soube que Aristides de Sousa Mendes tinha assinado os seus vistos que os livrou de morte certa e esta é uma homenagem que quero prestar", revelou.
O arquiteto norte-americano de 25 anos explicou que parte da verba para o minimuseu temporário, intitulado "Work Towards Fairness" (trabalho pela justiça), foi ganha num concurso da Unhate Foundation, patrocinado pela Benetton.
"Ao todo foram gastos cerca de 20 mil euros, para além da colaboração da Câmara de Carregal do Sal e da Fundação Arístides Sousa Mendes", informou.
A parte exterior dos três pavilhões está revestida com 30 mil assinaturas de Aristides de Sousa Mendes, uma por cada visto que passou, com o intuito de "mostrar que realmente é um número muito grande de pessoas a terem sido salvas".
Nos pavilhões laterais serão instaladas exposições sobre a vida de Aristides Sousa Mendes e o contexto histórico em que viveu.
O passaporte de David Moed, o avô de Eric Moed, onde figura o visto assinado por Aristides de Sousa Mendes, está estampado num dos muitos painéis que serão expostos.
No pavilhão central serão colocadas centenas de fotografias a preto e branco de sobreviventes da Segunda Guerra Mundial.
"Os retratos, que a Felix Archict cedeu generosamente, pertencem a centenas de pessoas salvas por Aristides, que não se farão acompanhar de nome nem outro registo biográfico porque o cônsul salvava-as independentemente de quem fossem", justificou.
Eric Moed revela ainda que, para além da homenagem à figura de Aristides Sousa Mendes, com este projeto espera sensibilizar as pessoas para a reconstrução da Casa do Passal, que está em ruínas.
"Há 60 anos que nada se faz na casa do diplomata português. Já houve muitos projetos e promessas, mas ficaria muito satisfeito em ver a Casa do Passal requalificada", concluiu.
Sobreviventes da II Guerra Mundial foram salvos graças ao cônsul de Portugal em Bordéus chegam quinta-feira a Cabanas de Viriato, à casa que pertenceu ao diplomata.
Acompanhados de familiares, os sobreviventes encontram-se a partir de hoje em Portugal para uma visita de cinco dias que inclui passagens por Vilar Formoso, Guarda, Belmonte, Figueira da Foz, Curia, Coimbra, Cabanas de Viriato, Caldas da Felgueira e Tomar.
Na quinta-feira à tarde, realiza-se uma cerimónia no cemitério de Cabanas de Viriato e uma visita à igreja onde Aristides de Sousa Mendes se casou com a primeira mulher, Angelina. Segue-se uma visita à casa de Aristides de Sousa Mendes (conhecida por Casa do Passal).

A comitiva iniciou no passado dia 09, em França, uma viagem que pretende homenagear a memória de Aristides de Sousa Mendes, que salvou mais de 30 mil pessoas aos passar-lhes vistos, desobedecendo às orientações que tinha recebido do ditador Oliveira Salazar. (Notícias ao Minuto – 18.06.2013)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Programa Próximo Futuro vai trazer a Lisboa artes e literatura do Sul de África.


Em 2013, o Programa Gulbenkian Próximo Futuro dedica o seu festival de verão ao sul de África. Pensamento e literatura, arte pública, exposições de fotografia, música, cinema, teatro e dança, a partir de 21 de junho.
 Duas décadas após o fim do Apartheid na África do Sul, o Programa Gulbenkian Próximo Futuro faz um ponto da situação e dedica o essencial da sua programação de verão às ideias e à criação artística contemporânea dos países do sul de África. Pensamento e literatura, arte pública, exposições de fotografia, música, cinema, teatro e dança, a partir de 21 de junho, na Fundação Gulbenkian, mas também no São Luiz Teatro Municipal e no Teatro do Bairro, parceiros nesta programação.
 O fim do Apartheid foi um acontecimento que teve repercussões por toda a África e, muito em particular, na região da África Austral. Cerca de duas décadas depois, qual é o panorama nestes países? Que melhorias houve? Que dinâmicas existem? Que frustrações se acumulam? Que perspetivas há para o próximo futuro?
 Instalações no Jardim, debates e exposições de fotografia
A programação arranca no dia 21 de junho, com a inauguração de várias instalações espalhadas pelo jardim. É também no jardim que às 19h tem lugar a primeira sessão da Festa da Literatura e do Pensamento do Sul de África, que decorre ao longo deste fim-de-semana (21 a 23 junho) e onde serão debatidos vários temas dos quais o primeiro é “O Estado das Artes”. No dia 21 de junho, pelas 22h, haverá ainda a inauguração de duas exposições no Edifício Sede da Fundação Gulbenkian: a 9ª Edição dos Encontros de Fotografia de Bamako e Present Tense – Fotografia do sul da África. As exposições ficarão patentes até dia 1 de setembro.
 Ciclo de cinema e concertos no Anfiteatro ao ar livre
Na abertura da ‘Cinemateca Próximo Futuro’ será apresentado em estreia mundial “Cadjigue”, a mais recente obra de ficção do realizador guineense Sana Na N’Hada, e na sessão seguinte Filipa César (Portugal) apresenta a sua trilogia evocativa de Amílcar Cabral e do cinema guineense, um trabalho composto por três ensaios cinematográficos de curta duração: “Conakry”, “Cacheu” e “Cuba”. Na mesma sessão, é apresentado em estreia no nosso país o documentário “Sem Flash. Homenagem a Ricardo Rangel (1924-2009)”. Nas sessões seguintes será projetado um conjunto de filmes de ficção, de não ficção e filmes experimentais, que abordam questões como sexualidade, identidade, tradição, transformação e cultura dos jovens.
 Dois concertos completam a programação do Próximo Futuro no Anfiteatro ao ar livre: os Jagwa Music, um coletivo da Tanzânia que desde o ano passado tem vindo a eletrizar o público dos grandes festivais de verão europeus, e Konkoma, um projeto com músicos do Gana e do Reino Unido que mistura afro-funk, jazz, soul e ritmos tradicionais africanos.
 Espetáculos de dança e teatro no São Luiz e no Teatro do Bairro

No São Luiz Teatro Municipal mostram-se trabalhos dos coreógrafos moçambicanos Panaíbra Gabriel Canda e Horácio Macuácua, mas também teatro do Brasil, com a adaptação ao palco do livro de Clarice Lispector “Outra Hora da Estrela”. A 7 de julho, estreia ainda no São Luiz “África Fantasma II”, do encenador português João Samões, com Joana Bárcia e Miguel Borges como intérpretes. O teatro chileno, que habitualmente marca presença no Próximo Futuro, estará representado pelo encenador Cristián Plana, que apresenta a peça Velório Chileno no Teatro do Bairro.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Céu Guarda fotografou a Islândia a esconder a crise.


Em 2009, a fotógrafa Céu Guarda passou uma semana na Islândia, acompanhando os repórteres de um jornal nos seus trabalhos de agenda, num projecto do colectivo que ajudou a fundar, o Kameraphoto. Agora, quatro anos depois, mostra a sua Islândia, em crise — "mas uma crise que não era visível como é a de Portugal", sublinha, em entrevista ao P3. Céu ficou impressionada com o facto de existir uma "vontade de esconder a crise": as pessoas não tinham vontade de falar sobre ela, nem de a aceitar. "Fui uma outsider durante uma semana", conta, sempre com perguntas. A exposição "Iceland — Welcome to my place" inaugura às 19h de 6 de Junho, n' A Pequena Galeria, em Lisboa, e pode ser vista até 22 de Junho. A entrada é livre. (Jornal Público)

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O Banksy desaparecido em Fevereiro foi vendido por um milhão.


Provavelmente o artista de rua mais conhecido do mundo, o britânico Banksy está a assistir à valorização crescente da sua obra – mas não é ele que está a lucrar com ela. O agora famoso mural do writer de grafitti que desapareceu de Wood Green, no norte de Londres, em meados de Fevereiro, já terá sido vendido em leilão por um milhão de euros. Os seus proprietários serão os donos do prédio em cuja parede foi pintado o stencil de uma criança que costura bandeiras do Reino Unido.
Slave Labour (Bunting Boy) foi à praça no domingo através da empresa de serviços Sincura Group, tendo esta sido a segunda investida do seu proprietário no mercado. Poucas semanas depois de ter desaparecido de Wood Green, o stencil que já foi interpretado como uma crítica ao Jubileu da rainha Isabel II ou como um comentário sobre o trabalho infantil, surgiu para venda em Miami. Mas, na altura, a população de Wood Green estava mobilizada contra o desaparecimento de Slave Labour da parede exterior de uma das suas lojas e os protestos chegaram a Miami.
A comunidade, que encarou a subtracção deste Banksy como um roubo de um presente que o street artist teria dado ao bairro, protestou mesmo nas ruas contra a perda da obra e o concelho de Haringey, onde fica Wood Green, apoiou essa campanha, levando-a aos palcos internacionais, visando a devolução da obra. Sem apresentar explicações e, segundo a BBC, já quando o leilão de Slave Labour tinha começado, a Fine Art Auctions Miami cancelou a venda em Fevereiro – as suas expectativas do valor da venda chegavam aos 517 mil euros
Em Maio, novo desenvolvimento: o Sincura Group, que se apresenta como “porta de entrada para uma vida VIP” que “começou como uma organização secreta” que “conseguia acesso ao inacessível”, anunciava que iria vender a peça, bem como outros trabalhos de artistas  como Damien Hirst, Andy Warhol ou o fotógrafo Mario Testino. O evento, que juntaria exposição e leilão, estava agendado para dia 2, sendo Slave Labour uma das suas peças centrais. Num comunicado datado de 11 de Maio, o Sincura Group afirmava ter investigado a proveniência do mural, que diz ter sido “legalmente resgatado”, frisando que “os actuais proprietários e o seu representante estão a agir de boa fé”.
Esses proprietários, confirmou à Bloomberg Robin Barton, marchand de arte especializado em Banksy e que representa os vendedores do mural, são Robert Alan Davis e Leslie Steven Gilbert, os donos da imobiliária Wood Green Investments, que detém o edifício onde o artista pintou a obra e que - sendo uma questão legal em aberto - considera ser a legal detentora da obra.
A obra “sofreu um extenso restauro” desde “a sua remoção”, lê-se na mesma nota de Maio do Sincura, assinada pelo seu director, Tony Baxter. Nela, o grupo dizia ainda que esta seria “mostrada pela primeira e única vez no Reino Unido antes de ser devolvida aos Estados Unidos onde fará parte de uma importante colecção privada de obras de Banksy”. A 30 de Maio, segundo disse à Bloomberg Robin Barton, já existia uma oferta de cerca de 765 mil euros por parte de um colecionador privado norte-americano. Mas a peça iria ainda assim a leilão com o Sincura Group, na expectativa de atingir valores mais elevados.
Barton detalhou, sobre o evento à porta fechada, que no final da noite de domingo o grupo recebera três licitações acima das 881 mil euros, e que iria reunir-se com os proprietários para avaliar as ofertas em cima da mesa. 

Banksy não confirmou nunca a autoria da peça, embora os peritos na sua obra estejam seguros da sua proveniência, e citou apenas, em resposta a uma pergunta sobre a venda de arte de rua em leilões no seu site, o impressionista Matisse: "Senti-me muito envergonhado quando as minhas telas começaram a alcançar preços elevados, vi-me condenado a um futuro de pintar nada mais que obras-primas." (Jornal Público)

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Luta de classes.


Não contem comigo para defender o elitismo cultural. Pelo contrário, contem comigo para rebentar cada detalhe do seu preconceito.
 A cultura é usada como símbolo de status por alguns, alfinete de lapela, botão de punho. A raridade é condição indispensável desse exibicionismo. Só pertencendo a poucos se pode ostentar como diferenciadora. Essa colecção de símbolos é descrita com pronúncia mais ou menos afectada e tem o objectivo de definir socialmente quem a enumera.
 Para esses indivíduos raros, a cultura é caracterizada por aqueles que a consomem. Assim, convém não haver misturas. Conheço melhor o mundo da leitura, por isso, tomo-o como exemplo: se, no início da madrugada, uma dessas mulheres que acorda cedo e faz limpeza em escritórios for vista a ler um determinado livro nos transportes públicos, os snobs que assistam a essa imagem são capazes de enjeitá-lo na hora. Começarão a definir essa obra como "leitura de empregadas de limpeza" (com muita probabilidade utilizarão um sinónimo mais depreciativo para descrevê-las).
 Este exemplo aplica-se em qualquer outra área cultural que possa chegar a muita gente: música, cinema, televisão, etc. Aquilo que mais surpreende é que estes "argumentos", esta forma de falar e de pensar seja utilizada em meios supostamente culturais por indivíduos supostamente cultos, e só em escassas ocasiões é denunciada como discriminadora do ponto de vista sexual ou social.
 Isso são livros de gaja, dizem eles. Às vezes, para cúmulo, há mesmo mulheres que dizem: isso são livros de gaja.
A raiz da minha cultura não pertence ao elitismo. Tenho orgulho das minhas origens, do meu avô pastor, do meu pai carpinteiro, como outros têm orgulho dos seus longos nomes compostos.
Depois de um trabalho que encerre convicções profundas, que tenha em conta os princípios da sua área artística, que seja consciente da história dessa área e que faça uma proposta coerente e inovadora, acredito na divulgação o mais ampla possível.
 Esconder uma obra em tiragens de 300 exemplares não lhe acrescenta um grama de valor artístico. Quando essa falta de divulgação resulta de uma escolha, pressupõe, quase sempre, falta de consideração pelo público, a crença de que um público mais vasto seria incapaz de entender tamanha sofisticação.
 Acredito que a poesia pode ser publicada em caixinhas de fósforos, escrita com trincha ou spray nas paredes, impressa em t-shirts, afixada no facebook. Em qualquer um desses lugares, será diferente, mas em todos continuará a ser poesia.

É ridícula a ideia de que a divulgação deturpa. A banalização é sempre tarefa de quem banaliza e não do objecto banalizado. Quem não for capaz de convocar os seus sentidos e a sua razão para apreciar uma determinada obra, apenas por acreditar que se encontra muito difundida, tem problemas graves ao nível do espírito crítico e da isenção mais básica. Esse é um daqueles casos em que se aconselha a lavagem de olhos. É aí que reside a deturpação.
 Admiro o povo ao qual pertenço. Não o povo mitificado, admiro o povo quotidiano. Gosto de ir a feiras. Gosto de comer frango assado com as mãos. Devo tanto à cultura deste povo como devo a Dostoiévski. Há alguns meses, a personagem de uma telenovela citou um poema escrito por mim. Toda a gente da minha rua viu e ouviu. A minha mãe ficou orgulhosa e eu também.
 Chamo-me José ou, se preferirem, Zé. Desprezo o elitismo. O verbo não é exagerado, adequa-se bem ao que sinto.
Hei-de sempre divulgar o meu trabalho na máxima dimensão das minhas capacidades. Devo esse esforço à convicção que tenho naquilo que escolhi dizer. Fico feliz se vejo os meus livros disponíveis em supermercados, estações de correios, bombas de gasolina ou bibliotecas públicas.
Aquilo que faço não existe sozinho, precisa de alguém que lhe dê sentido, o seu próprio sentido e interpretação pessoal. Se uma árvore cair sozinha na floresta, sem ninguém por perto, será que faz barulho? Por esse motivo, o esforço de divulgação é também uma mostra de respeito para com essas pessoas, é um sinal da minha crença nelas e no seu valor. Exactamente como estas palavras, que existem porque estás a lê-las.
Escrevo romances, a minha força de vontade é enorme. Tenho 38 anos, conto estar por cá durante bastante tempo. Tenho ainda muito por fazer. Habituem-se. Não tenho medo.

José Luís Peixoto, in revista Visão (Maio de 2013)