domingo, 30 de junho de 2013
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Homem de Aço.
Título
original: Man of Steel
De:
Zack Snyder
Género:
Acção, Aventura
Classificação:
M/12
Outros
dados: EUA, 2013, Cores, 143 min.
Links:
Site
Oficial
Clark
chegou à Terra ainda bebé, proveniente de um planeta longínquo chamado Krypton.
Com a sua origem mantida em segredo, foi criado por Martha e Jonathan Kent, que
se dedicaram de corpo e alma à sua educação. Agora, já adulto, vive angustiado
por um constante sentimento de não-pertença a uma raça que não é a dele,
questionando a origem dos seus poderes, que gradualmente se têm fortalecido. É
então que, a viver numa cidade devastada pela criminalidade e corrupção,
descobre a finalidade da sua própria existência ao criar o Super-Homem, um
justiceiro sobre-humano capaz de restaurar a paz e o equilíbrio ao planeta que
o acolheu.
Com
argumento de David S. Goyer (guionista de "Batman: O início") e
produção de Christopher Nolan ("A Origem", "O Cavaleiro das
Trevas"), um filme de acção e aventura realizado por Zack Snyder (“O
Renascer dos Mortos”, “300” e “Watchmen - Os Guardiões”), sobre um dos mais
reconhecidos super-heróis da DC Comics. No elenco, Henry Cavill, Amy Adams,
Diane Lane, Kevin Costner, Michael Shannon, Russell Crowe e Laurence Fishburne,
entre outros. PÚBLICO
domingo, 23 de junho de 2013
A casa com que Aristides de Sousa Mendes sempre sonhou.
A
casa de Aristides de Sousa Mendes, mais conhecida como a Casa do Passal, em
Cabanas de Viriato, vai finalmente ser restaurada. Depois de vários anos ao
abandono, a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) anunciou nesta quinta-feira,
numa cerimónia de homenagem ao “Cônsul de Bordéus”, que em breve vão começar os
trabalhos de recuperação.
O
dia foi de festa e de homenagem ao homem que durante a Segunda Guerra Mundial
passou o visto a mais de 30 mil pessoas, permitindo que estas pudessem fugir
aos terrores do Holocausto.
Foi
aliás por causa de um destes sobreviventes que nesta quinta-feira se reuniram
centenas de pessoas em Cabanas de Viriato. Eric Moed, um arquitecto
norte-americano, ficou a saber no ano passado que Aristides de Sousa Mendes
tinha passado o visto ao seu avô. Na mesma altura estava a preparar o projecto
final de curso.
“E
foi então que tudo fez sentido. Assim que o meu avô me contou a sua história,
eu quis saber mais sobre Aristides de Sousa Mendes. Quando vi a Casa do Passal
completamente destruída, percebi que esse seria o meu projecto”, contou ao
PÚBLICO o arquitecto de 25 anos. O resultado final do seu trabalho é uma
instalação à entrada da destruída casa. O objectivo é não só lembrar o acto
heróico do cônsul, como também alertar para o estado de degradação da casa, já
com parte do telhado destruído.
O
plano do arquitecto parece ter resultado e os trabalhos de restauro vão começar
ainda este ano, como anunciou o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto
Xavier, que, apesar de não ter estado presente na homenagem, enviou uma
mensagem. O objectivo, segundo as palavras do secretário de Estado, é que a
Casa do Passal seja no futuro um espaço onde o passado e o futuro se encontrem
para que “aprendamos a dizer: ‘Nunca mais’.”
“Temos
de ter a capacidade de aprender com a história.” A notícia foi recebida pela
população com um entusiasta e longo aplauso. “Finalmente”, gritou-se.
terça-feira, 18 de junho de 2013
"Minimuseu" homenageia Aristides de Sousa em Cabanas de Viriato.
O
arquiteto americano Eric Moed está a ultimar um "minimuseu
temporário", em Cabanas de Viriato, que tem como objetivo homenagear
Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português que resgatou 30 mil pessoas do
Holocausto, entre os quais alguns familiares.
A
estrutura em acrílico, dividida em três partes, está a ser montada há cerca de
três semanas em Cabanas de Viriato, no concelho de Carregal do Sal, na entrada
principal daquela que foi a casa de Aristides de Sousa Mendes, o cônsul
português em Bordéus durante a Segunda Guerra Mundial.
Eric
Moed é o autor do projeto, a inaugurar quinta-feira, que serve para prestar
homenagem ao diplomata português que salvou os seus avô e bisavó, passando-lhes
um visto que permitiu entrada em Portugal.
"Fiquei
a saber pelo meu avô que ele e o meu bisavô eram sobreviventes do Holocausto.
Há cerca de dois anos soube que Aristides de Sousa Mendes tinha assinado os
seus vistos que os livrou de morte certa e esta é uma homenagem que quero
prestar", revelou.
O
arquiteto norte-americano de 25 anos explicou que parte da verba para o
minimuseu temporário, intitulado "Work Towards Fairness" (trabalho
pela justiça), foi ganha num concurso da Unhate Foundation, patrocinado pela
Benetton.
"Ao
todo foram gastos cerca de 20 mil euros, para além da colaboração da Câmara de
Carregal do Sal e da Fundação Arístides Sousa Mendes", informou.
A
parte exterior dos três pavilhões está revestida com 30 mil assinaturas de
Aristides de Sousa Mendes, uma por cada visto que passou, com o intuito de
"mostrar que realmente é um número muito grande de pessoas a terem sido
salvas".
Nos
pavilhões laterais serão instaladas exposições sobre a vida de Aristides Sousa
Mendes e o contexto histórico em que viveu.
O
passaporte de David Moed, o avô de Eric Moed, onde figura o visto assinado por
Aristides de Sousa Mendes, está estampado num dos muitos painéis que serão
expostos.
No
pavilhão central serão colocadas centenas de fotografias a preto e branco de
sobreviventes da Segunda Guerra Mundial.
"Os
retratos, que a Felix Archict cedeu generosamente, pertencem a centenas de
pessoas salvas por Aristides, que não se farão acompanhar de nome nem outro
registo biográfico porque o cônsul salvava-as independentemente de quem
fossem", justificou.
Eric
Moed revela ainda que, para além da homenagem à figura de Aristides Sousa
Mendes, com este projeto espera sensibilizar as pessoas para a reconstrução da
Casa do Passal, que está em ruínas.
"Há
60 anos que nada se faz na casa do diplomata português. Já houve muitos
projetos e promessas, mas ficaria muito satisfeito em ver a Casa do Passal
requalificada", concluiu.
Sobreviventes
da II Guerra Mundial foram salvos graças ao cônsul de Portugal em Bordéus
chegam quinta-feira a Cabanas de Viriato, à casa que pertenceu ao diplomata.
Acompanhados
de familiares, os sobreviventes encontram-se a partir de hoje em Portugal para
uma visita de cinco dias que inclui passagens por Vilar Formoso, Guarda,
Belmonte, Figueira da Foz, Curia, Coimbra, Cabanas de Viriato, Caldas da
Felgueira e Tomar.
Na
quinta-feira à tarde, realiza-se uma cerimónia no cemitério de Cabanas de
Viriato e uma visita à igreja onde Aristides de Sousa Mendes se casou com a
primeira mulher, Angelina. Segue-se uma visita à casa de Aristides de Sousa
Mendes (conhecida por Casa do Passal).
A
comitiva iniciou no passado dia 09, em França, uma viagem que pretende
homenagear a memória de Aristides de Sousa Mendes, que salvou mais de 30 mil
pessoas aos passar-lhes vistos, desobedecendo às orientações que tinha recebido
do ditador Oliveira Salazar. (Notícias ao Minuto – 18.06.2013)
sexta-feira, 14 de junho de 2013
Programa Próximo Futuro vai trazer a Lisboa artes e literatura do Sul de África.
Em
2013, o Programa Gulbenkian Próximo Futuro dedica o seu festival de verão ao
sul de África. Pensamento e literatura, arte pública, exposições de fotografia,
música, cinema, teatro e dança, a partir de 21 de junho.
Duas
décadas após o fim do Apartheid na África do Sul, o Programa Gulbenkian Próximo
Futuro faz um ponto da situação e dedica o essencial da sua programação de
verão às ideias e à criação artística contemporânea dos países do sul de
África. Pensamento e literatura, arte pública, exposições de fotografia,
música, cinema, teatro e dança, a partir de 21 de junho, na Fundação
Gulbenkian, mas também no São Luiz Teatro Municipal e no Teatro do Bairro,
parceiros nesta programação.
O
fim do Apartheid foi um acontecimento que teve repercussões por toda a África
e, muito em particular, na região da África Austral. Cerca de duas décadas
depois, qual é o panorama nestes países? Que melhorias houve? Que dinâmicas
existem? Que frustrações se acumulam? Que perspetivas há para o próximo futuro?
Instalações
no Jardim, debates e exposições de fotografia
A
programação arranca no dia 21 de junho, com a inauguração de várias instalações
espalhadas pelo jardim. É também no jardim que às 19h tem lugar a primeira
sessão da Festa da Literatura e do Pensamento do Sul de África, que decorre ao
longo deste fim-de-semana (21 a 23 junho) e onde serão debatidos vários temas
dos quais o primeiro é “O Estado das Artes”. No dia 21 de junho, pelas 22h,
haverá ainda a inauguração de duas exposições no Edifício Sede da Fundação
Gulbenkian: a 9ª Edição dos Encontros de Fotografia de Bamako e Present
Tense – Fotografia do sul da África. As exposições ficarão patentes até
dia 1 de setembro.
Ciclo
de cinema e concertos no Anfiteatro ao ar livre
Na
abertura da ‘Cinemateca Próximo Futuro’ será apresentado em estreia mundial
“Cadjigue”, a mais recente obra de ficção do realizador guineense Sana Na
N’Hada, e na sessão seguinte Filipa César (Portugal) apresenta a sua trilogia
evocativa de Amílcar Cabral e do cinema guineense, um trabalho composto por
três ensaios cinematográficos de curta duração: “Conakry”, “Cacheu” e “Cuba”.
Na mesma sessão, é apresentado em estreia no nosso país o documentário “Sem
Flash. Homenagem a Ricardo Rangel (1924-2009)”. Nas sessões seguintes será
projetado um conjunto de filmes de ficção, de não ficção e filmes
experimentais, que abordam questões como sexualidade, identidade, tradição,
transformação e cultura dos jovens.
Dois
concertos completam a programação do Próximo Futuro no Anfiteatro ao ar livre:
os Jagwa Music, um coletivo da Tanzânia que desde o ano passado tem vindo a
eletrizar o público dos grandes festivais de verão europeus, e Konkoma, um
projeto com músicos do Gana e do Reino Unido que mistura afro-funk, jazz, soul
e ritmos tradicionais africanos.
Espetáculos
de dança e teatro no São Luiz e no Teatro do Bairro
No
São Luiz Teatro Municipal mostram-se trabalhos dos coreógrafos moçambicanos
Panaíbra Gabriel Canda e Horácio Macuácua, mas também teatro do Brasil, com a
adaptação ao palco do livro de Clarice Lispector “Outra Hora da Estrela”. A 7
de julho, estreia ainda no São Luiz “África Fantasma II”, do encenador
português João Samões, com Joana Bárcia e Miguel Borges como intérpretes. O
teatro chileno, que habitualmente marca presença no Próximo Futuro, estará
representado pelo encenador Cristián Plana, que apresenta a peça Velório
Chileno no Teatro do Bairro.
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Céu Guarda fotografou a Islândia a esconder a crise.
Em
2009, a fotógrafa Céu Guarda passou uma semana na Islândia, acompanhando os
repórteres de um jornal nos seus trabalhos de agenda, num projecto do colectivo
que ajudou a fundar, o Kameraphoto. Agora, quatro anos depois, mostra a sua
Islândia, em crise — "mas uma crise que não era visível como é a de
Portugal", sublinha, em entrevista ao P3. Céu ficou impressionada com o facto de existir uma
"vontade de esconder a crise": as pessoas não tinham vontade de falar
sobre ela, nem de a aceitar. "Fui uma outsider durante uma semana",
conta, sempre com perguntas. A exposição "Iceland — Welcome to my
place" inaugura às 19h de 6 de Junho, n' A Pequena Galeria, em Lisboa, e
pode ser vista até 22 de Junho. A entrada é livre. (Jornal Público)
sexta-feira, 7 de junho de 2013
O Banksy desaparecido em Fevereiro foi vendido por um milhão.
Provavelmente
o artista de rua mais conhecido do mundo, o britânico Banksy está a assistir à
valorização crescente da sua obra – mas não é ele que está a lucrar com ela. O
agora famoso mural do writer de grafitti que desapareceu de
Wood Green, no norte de Londres, em meados de Fevereiro, já terá sido vendido
em leilão por um milhão de euros. Os seus proprietários serão os donos do
prédio em cuja parede foi pintado o stencil de uma criança que
costura bandeiras do Reino Unido.
Slave
Labour (Bunting Boy) foi à praça no domingo através da empresa de serviços
Sincura Group, tendo esta sido a segunda investida do seu proprietário no
mercado. Poucas semanas depois de ter desaparecido
de Wood Green, o stencil que já foi interpretado como uma crítica
ao Jubileu da rainha Isabel II ou como um comentário sobre o trabalho infantil,
surgiu para venda em Miami. Mas, na altura, a população de Wood Green estava
mobilizada contra o desaparecimento de Slave Labour da parede
exterior de uma das suas lojas e os protestos chegaram a Miami.
A
comunidade, que encarou a subtracção deste Banksy como um roubo de um presente
que o street artist teria dado ao bairro, protestou mesmo nas ruas
contra a perda da obra e o concelho de Haringey, onde fica Wood Green, apoiou
essa campanha, levando-a aos palcos internacionais, visando a devolução da
obra. Sem apresentar explicações e, segundo a BBC, já quando o leilão de Slave
Labour tinha começado, a Fine Art Auctions Miami cancelou a venda em
Fevereiro – as suas expectativas do valor da venda chegavam aos 517 mil euros
Em
Maio, novo desenvolvimento: o Sincura
Group, que se apresenta como “porta de entrada para uma vida VIP” que
“começou como uma organização secreta” que “conseguia acesso ao inacessível”,
anunciava que iria vender a peça, bem como outros trabalhos de artistas
como Damien Hirst, Andy Warhol ou o fotógrafo Mario Testino. O evento,
que juntaria exposição e leilão, estava agendado para dia 2, sendo Slave
Labour uma das suas peças centrais. Num comunicado datado de 11 de Maio, o
Sincura Group afirmava ter investigado a proveniência do mural, que diz ter
sido “legalmente resgatado”, frisando que “os actuais proprietários e o seu
representante estão a agir de boa fé”.
Esses
proprietários, confirmou à Bloomberg Robin
Barton, marchand de arte especializado em Banksy e que representa os
vendedores do mural, são Robert Alan Davis e Leslie Steven Gilbert, os donos da
imobiliária Wood Green Investments, que detém o edifício onde o artista pintou
a obra e que - sendo
uma questão legal em aberto - considera ser a legal detentora da
obra.
A
obra “sofreu um extenso restauro” desde “a sua remoção”, lê-se na mesma
nota de Maio do Sincura, assinada pelo seu director, Tony Baxter.
Nela, o grupo dizia ainda que esta seria “mostrada pela primeira e única vez no
Reino Unido antes de ser devolvida aos Estados Unidos onde fará parte de uma
importante colecção privada de obras de Banksy”. A 30 de Maio, segundo disse à
Bloomberg Robin Barton, já existia uma oferta de cerca de 765 mil euros por
parte de um colecionador privado norte-americano. Mas a peça iria ainda assim a
leilão com o Sincura Group, na expectativa de atingir valores mais elevados.
Barton
detalhou, sobre o evento à porta fechada, que no final da noite de domingo o
grupo recebera três licitações acima das 881 mil euros, e que iria reunir-se
com os proprietários para avaliar as ofertas em cima da mesa.
Banksy
não confirmou nunca a autoria da peça, embora os peritos na sua obra estejam
seguros da sua proveniência, e citou apenas, em resposta a uma pergunta sobre a venda de arte
de rua em leilões no seu site, o impressionista Matisse:
"Senti-me muito envergonhado quando as minhas telas começaram a alcançar
preços elevados, vi-me condenado a um futuro de pintar nada mais que
obras-primas." (Jornal Público)
segunda-feira, 3 de junho de 2013
Luta de classes.
Não
contem comigo para defender o elitismo cultural. Pelo contrário, contem comigo
para rebentar cada detalhe do seu preconceito.
A
cultura é usada como símbolo de status por alguns, alfinete de lapela, botão de
punho. A raridade é condição indispensável desse exibicionismo. Só pertencendo
a poucos se pode ostentar como diferenciadora. Essa colecção de símbolos é
descrita com pronúncia mais ou menos afectada e tem o objectivo de definir
socialmente quem a enumera.
Para
esses indivíduos raros, a cultura é caracterizada por aqueles que a consomem.
Assim, convém não haver misturas. Conheço melhor o mundo da leitura, por isso,
tomo-o como exemplo: se, no início da madrugada, uma dessas mulheres que acorda
cedo e faz limpeza em escritórios for vista a ler um determinado livro nos
transportes públicos, os snobs que assistam a essa imagem são capazes de
enjeitá-lo na hora. Começarão a definir essa obra como "leitura de
empregadas de limpeza" (com muita probabilidade utilizarão um sinónimo
mais depreciativo para descrevê-las).
Este
exemplo aplica-se em qualquer outra área cultural que possa chegar a muita
gente: música, cinema, televisão, etc. Aquilo que mais surpreende é que estes
"argumentos", esta forma de falar e de pensar seja utilizada em meios
supostamente culturais por indivíduos supostamente cultos, e só em escassas
ocasiões é denunciada como discriminadora do ponto de vista sexual ou social.
Isso
são livros de gaja, dizem eles. Às vezes, para cúmulo, há mesmo mulheres que
dizem: isso são livros de gaja.
A
raiz da minha cultura não pertence ao elitismo. Tenho orgulho das minhas
origens, do meu avô pastor, do meu pai carpinteiro, como outros têm orgulho dos
seus longos nomes compostos.
Depois
de um trabalho que encerre convicções profundas, que tenha em conta os
princípios da sua área artística, que seja consciente da história dessa área e
que faça uma proposta coerente e inovadora, acredito na divulgação o mais ampla
possível.
Esconder
uma obra em tiragens de 300 exemplares não lhe acrescenta um grama de valor
artístico. Quando essa falta de divulgação resulta de uma escolha, pressupõe,
quase sempre, falta de consideração pelo público, a crença de que um público
mais vasto seria incapaz de entender tamanha sofisticação.
Acredito
que a poesia pode ser publicada em caixinhas de fósforos, escrita com trincha
ou spray nas paredes, impressa em t-shirts, afixada no facebook. Em qualquer um
desses lugares, será diferente, mas em todos continuará a ser poesia.
É
ridícula a ideia de que a divulgação deturpa. A banalização é sempre tarefa de
quem banaliza e não do objecto banalizado. Quem não for capaz de convocar os
seus sentidos e a sua razão para apreciar uma determinada obra, apenas por
acreditar que se encontra muito difundida, tem problemas graves ao nível do
espírito crítico e da isenção mais básica. Esse é um daqueles casos em que se
aconselha a lavagem de olhos. É aí que reside a deturpação.
Admiro
o povo ao qual pertenço. Não o povo mitificado, admiro o povo quotidiano. Gosto
de ir a feiras. Gosto de comer frango assado com as mãos. Devo tanto à cultura
deste povo como devo a Dostoiévski. Há alguns meses, a personagem de uma telenovela
citou um poema escrito por mim. Toda a gente da minha rua viu e ouviu. A minha
mãe ficou orgulhosa e eu também.
Chamo-me
José ou, se preferirem, Zé. Desprezo o elitismo. O verbo não é exagerado,
adequa-se bem ao que sinto.
Hei-de
sempre divulgar o meu trabalho na máxima dimensão das minhas capacidades. Devo
esse esforço à convicção que tenho naquilo que escolhi dizer. Fico feliz se
vejo os meus livros disponíveis em supermercados, estações de correios, bombas
de gasolina ou bibliotecas públicas.
Aquilo
que faço não existe sozinho, precisa de alguém que lhe dê sentido, o seu
próprio sentido e interpretação pessoal. Se uma árvore cair sozinha na
floresta, sem ninguém por perto, será que faz barulho? Por esse motivo, o
esforço de divulgação é também uma mostra de respeito para com essas pessoas, é
um sinal da minha crença nelas e no seu valor. Exactamente como estas palavras,
que existem porque estás a lê-las.
Escrevo
romances, a minha força de vontade é enorme. Tenho 38 anos, conto estar por cá
durante bastante tempo. Tenho ainda muito por fazer. Habituem-se. Não tenho
medo.
José
Luís Peixoto, in revista Visão (Maio de 2013)
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