História
que cruza a geração dos resistentes ao fascismo com a que cresceu em
democracia, Que Importa a Fúria do Mar foi eleito por unanimidade
entre mais de uma centena de romances.
Que
Importa a Fúria do Mar, de Ana Margarida de Carvalho, venceu o Grande Prémio de
Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (APE), tendo sido
escolhido por unanimidade, entre os 107 livros admitidos a concurso, por um
júri composto por José Correia Tavares, Annabela Rita, Cândido Oliveira
Martins, José Manuel de Vasconcelos, Teresa Carvalho e Vergílio Alberto Vieira.
Romance
de estreia da autora, a acção de Que Importa a Fúria do Mar(Teorema, 2013)
inicia-se em 1934, após a célebre revolta operária de 18 Janeiro desse ano, na
Marinha Grande, e parte de uma cena em que um homem lança um maço de cartas da
janela de um comboio, esperando que alguém as faça chegar à mulher para quem
foram escritas. O homem, que se chama Joaquim, foi detido na sequência da
revolta de 1934 e irá integrar a leva de prisioneiros políticos que inaugura o
campo do Tarrafal, em Cabo Verde.
Muitos
anos depois, Joaquim será entrevistado por uma jornalista, Eugénia, na qual se
adivinha um alter-ego da autora, que trabalha actualmente na revista Visão,
e que já tinha uma longa carreira na imprensa (reconhecida com vários prémios)
quando se aventurou a escrever o seu primeiro romance. Após ter estado entre os
finalistas do prémio LeYa, Que Importa a Fúria do Mar ganhou agora o
da APE, no valor de 15 mil euros, um prémio estreado em 1982 com A Balada
da Praia dos Cães, de José Cardoso Pires, e entre cujos anteriores vencedores
se conta também o pai da Ana Margarida Carvalho, o romancista Mário de
Carvalho, premiado em 1994 pelo romanceUm Deus Passeando pela Brisa da Tarde.
Entrevistada
para o PÚBLICO por Isabel Lucas, por ocasião do lançamento de Que
Importa a Fúria do Mar, um livro que cruza a geração dos resistentes
ao fascismo com a que já iniciou a sua vida adulta em democracia, Ana Margarida
Carvalho falava com entusiasmo do prazer que fora experimentar a “imensa
liberdade na forma” que a ficção permite, por contraste com a escrita
jornalística, mas mostrava também um desarmante, e hoje cada vez mais raro,
espírito autocrítico, afirmando, por exemplo, que ficava contente se as pessoas
gostavam do livro, mas que lhe parecia “cheio de imperfeições”, e que evitava
relê-lo para não ver alguns “erros de principiante” que achava ter feito. E
quantos escritores confessariam como ela, sem rebuço, que gostam de dicionários
e escrevem com eles por perto? A sorte de autora foi não ter sido chamada a
julgar em causa própria, ou teria ganho na mesma o prémio da APE, mas não
decerto por unanimidade.
Prémios
Pen Clube
Também
o Pen ClubePortuguês anunciou esta quinta-feira os prémios PEN para obras
publicadas em 2013, cujos júris optaram por escolher dois vencedores ex
aequo em todas as categorias à excepção da de Ensaio, conquistada pelo
livro Para que Serve a História? (Tinta-da-China), do historiador
Diogo Ramada Curto, também crítico do PÚBLICO. Gastão Cruz e Golgona Anghel
dividiram o prémio de poesia, respectivamente com Fogo(Assírio &
Alvim) e Como Uma Flor de Plástico na Montra de Um Talho(Assírio &
Alvim), e o de narrativa foi atribuído ex aequo a Ana Luísa
Amaral, por Ara (Sextante) e Bruno Vieira Amaral, pelo romance As
Primeiras Coisas(Quetzal). Também na categoria de primeiras obras, o prémio foi
dividido, consagrando Ensaio sobre o Pensamento Estético de Adorno (Vendaval),
de João Pedro Cachopo, e o livro de poemas Cinza (Tinta da China), de
Rosa Oliveira.
João David Pinto-Correia, Fernando Martinho e
Pedro Eiras compuseram o júri de poesia, Maria João Cantinho, Paula Morão e
Nuno Crespo o de ensaio, e o de narrativa incluiu Teresa Salema, Vítor Viçoso,
Filipa Melo. O prémio para primeiras obras é atribuído por elementos dos júris das categorias anteriores. (Jornal Público)
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