O Livro A Vida no Campo
foi apresentado esta tarde em Lisboa. Fernando
Alves, jornalista, leu uma carta aberta a Joel Neto em plena FNAC Chiado. E o
autor comoveu-se, em Lisboa
A
sala estava cheia e quente e ainda o trio sentado à mesa para onde todos os
olhares convergiam não começara a falar. Hugo Gonçalves, da Marcador, começou a
sessão de apresentação do livro A Vida
no Campo, de Joel Neto - que junta um conjunto de textos publicados,
diariamente, no Diário de Notícias: "Tal como Hemingway, [Joel Neto]
consegue escrever com elegância sob pressão".
Hugo
Gonçalves, que já fora camarada de redação de Joel Neto, agora no papel de
editor destacou a literatura feita de pequenos nadas do açoriano que regressou
às origens, na Ilha Terceira, há quatro anos: "O Joel só precisa de ver
uma vaca a atravessar a estrada para escrever um romance". A plateia,
mais-que-completa, riu-se. Joel também. Mal sabia o que viria a seguir.
O
editor da Marcador seguia a sua "cábula eletrónica" e, quase a
terminar, diria que Joel Neto encontrou, depois dos 30, "o amor e a paz de
espírito e isso fez dele um escritor melhor."
O
microfone - e o livro, estrategicamente colocado para as fotos e a transmissão
vídeo em direto - mudou para a outra ponta da mesa. Fernando Alves, jornalista,
contou-nos que "implorou a Joel Neto" para apresentar este livro,
ainda ele não era livro, era um conjunto de textos publicados no Diário de
Notícias. Que tinha "uma relação obsessiva" com aquelas crónicas do
DN. "Ia aquela crónica como quem vai ao quarto dos pais", disse.
"Ia às crónicas do Joel para me comover".
Depois
Fernando Alves dirigiu-se, não à gorda plateia, mas ao autor, sentado à sua
direita. E assim desfiou as folhas A4 em que trazia uma carta para Joel - que
gostaria que também escutássemos.
O
jornalista da TSF leu, então, uma espécie de metatexto do livro que ali se
apresentava. Começou no início do livro, a dois dias do Equinócio, seguiu na
peugada dos passos de Joel Neto, do cão Melville ("somos íntimos desse
rafeiro dourado"), das gentes da Terra Chã: "Cada passagem é uma
fajã".
Alves
bebera as histórias de Joel com sofreguidão. Traz à salinha respirante e
silenciosa o momento em que Joel Neto leva os seus leitores "para dentro
de casa, para o único quarto sempre arrumado da casa, o quarto dos pais".
Disse então Fernando Alves: "Não será este o único momento em que terei sido
tomado por uma irresistível melancolia ou vontade de chorar". Lembrara-se
do pai, no quarto dele em África, falar-lhe das constelações Cruzeiro do Sul ou
o Sete Estrelo - que também está nas páginas de Joel.
Com
estes textos diários (agora semanais, aos sábados) no DN e agora com o livro A
Vida no Campo, Joel Neto transformou-se num guardião da memória. "Os teus
textos são de alguém que não esquece" diria Alves a propósito do carteiro
Emanuel, que citou Borges numa troca de piropos futebolísticos.
"Estás
à escuta das palavras da tua ilha, esse magma primordial", disse-lhe o
jornalista da rádio, que também quer escutar essas vozes. Alves confessou
publicamente o desejo de seguir com o autor e o livro, Terra Chã fora, com o
microfone a captar o som das vozes que pontuam o livro. Ouvir, por exemplo, o
bombeiro que assistiu o avô de Joel quando este passou mal. Joel comove-se, com
a discrição possível no centro dos olhares de uma sala cheia.
Joel,
"guardador da identidade da Terra Chã", engoliu as lágrimas. Voltaria
a olhar para Fernando e para a casa cheia. Mas o narrador voltaria às raízes
das árvores e da família do autor (Joel Neto vive na casa que pertenceu ao
avô). Às memórias em que se mexem a cada passeio ou na poda de árvores. Quando
Fernando Alves se calou, Joel Neto não conseguia falar.
"É
difícil explicar como tudo isto faz sentido". Tinha uma folha dobrada com
agradecimentos que não conseguia fazer. Emocionou-se no coração de Lisboa - ele
que se comove tanto nos Açores, como disse em entrevista ao DN.
Depois
agradeceu à editora Marcador, à Booktailors, ao DN: "[o jornal] arriscou
muito quando me pediu uma crónica, um exercício de estilo sobre o meu regresso
insular."
A
sessão terminou com uma longa fila para autógrafos. No sábado, às 23.00,
Fernando Alves passa no seu programa da TSFZona Franca todas
as músicas de A Vida no Campo. Se já estiver na Terra Chã,
Joel Neto escutará no Roberts, o rádio com wi-fi, o único objeto que comprou no
regresso aos Açores. (DN
– 25 Maio 2016)
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