Era uma vez um gajo chamado Carlos, que
vivia numa casa tão grande que levava p’raí umas vinte páginas a dizer como é
que era. Quem gosta de imobiliário, tem aqui um petisco, porque aquilo tem
assoalhadas grandes e boas e, pronto, mas p’ra mim não serve, que eu imóveis só
com a fotografia, que às vezes um gajo é artista a escrever e depois uma pessoa
vai a ver a casa e não tem nada a ver com o que imaginou.
Portanto, o gajo chama-se Carlos e o pai
matou-se quando ele era pequeno, porque a mulher fugiu com um italiano e levou
a filha que eles também tinham e… e ele matou-se, não faz sentido, porque o que
não falta p’raí são gajas. Ora o puto fica com o avô e tal, vai crescendo e
torna-se um gajo fino, bem vestido e que vai a boas festas.
Às tantas vê uma gaja e pensa: “Ui, que
gaja tão boa!” e p’raí na página 400 começam a ir para a cama os dois e andam
aí umas boas 200 páginas, pim, pim, troca e vira e agora nesta casa e agora
naquela e pumba e… só que às tantas vem um gajo e diz: “-Eh pá, olha que a moça
é tua irmã!” e o Carlos fica “eh pá, isso não pode ser, que nojo!” de maneiras
que dá-lhe só mais duas ou três trolitadas e vai dar uma volta ao mundo, para
espairecer, e acaba tudo em bem porque, ao menos, não tiveram filhos. Porque se
tivessem eram, de certeza, meio tantans, babavam-se, como o meu primo Zé Luís,
que os pais também eram parentes.
ENSINAMENTOS DA OBRA
1 – Tu nunca sabes o que é que os teus
pais andaram a fazer, porque eles, em princípio, nasceram primeiro do que tu,
de maneiras que, quando conheces uma gaja o melhor é dizer: “Oh menina, o seu
passaporte se faz favor, nunca fiando, que eu gosto de fazer tudo certinho!”
2 – Outra coisa que o Eça de Queirós
ensina é que às vezes mais vale um gajo ser cão, porque eu tive um cão, que era
o Patusco e o gajo não respeitava nada, nem ninguém, era irmãs, era a mãe, era
tudo a eito e não era nada com ele.
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