Foi
anunciada a temporada de música para 2014 com 11 concertos no Palácio Nacional
de Queluz. O histórico pianoforte de Clementi foi recuperado e vai ser tocado
nos dois ciclos programados.
A
música vai voltar àquele que foi o palco de festas e concertos da corte real de
D. Maria I e de D. Pedro, ou seja, ao Palácio Nacional de Queluz. Mais
especificamente, às salas por onde passaram músicos conceituados da época. Para
2014 estão programados dois ciclos, um de Carnaval e outro de Outono, tal como
se fazia na altura. A música vai levar-nos a esse tempo da monarquia pela mão
de alguns dos maiores nomes da actualidade, como o pianista holandês Ronald
Brautigam ou o português Pedro Burmester.
Mas
se com esta programação, que tem por nome Temporada de Música – Tempestade
e Galanterie e que arranca a 8 de Março, o seu director artístico Massimo
Mazzeo nos quer transportar para a época dos grandes bailes e concertos da
corte, muito se deve também à recuperação de uma das jóias do Palácio de
Queluz, o pianoforte de Clementi. Este instrumento musical com mais de 200 anos
estava há 12 arrumado e a precisar de um grande trabalho de intervenção. Na
semana passada voltou finalmente ao seu lugar, a Sala da Música, uma das mais
antigas do Palácio, e já se pôde ouvir o som que dele sai, podendo imaginar-se
até D. Maria (representada no quadro que está pendurado na parede junto ao
instrumento) embalada por aquela música.
“Este
é o regresso à cena do pianoforte, uma peça excepcional de grande raridade”,
disse na conferência de imprensa de apresentação desta programação musical a
directora do Palácio de Queluz, Inês Ferro, explicando que este instrumento
histórico, construído pelo célebre compositor e intérprete italiano Muzio
Clementi, “esteve esquecido 12 anos” mas depois de ter sido “completamente
desmontado e restaurado” vai permitir finalmente que a música volte a ser
tocada no Palácio. E tal como foi antigamente, vai voltar a ser agora.
Para
Massimo Mazzeo, director musical da Divino Sospiro, responsável também pelo
Centro de Estudos Setecentistas de Portugal, “Clementi retorna ao lugar que lhe
é próprio”. E por isso mesmo é o italiano e o seu instrumento o foco do
concerto inaugural marcado para o dia 8 de Março na Sala da Música. No
pianoforte vai estar o holandês Ronald Brautigam para tocar reportório de
Clementi, em tributo ao italiano.
O
pianoforte é aliás a figura central do Ciclo de Carnaval, estando presente em
todos os concertos. No dia 12 de Março volta a ser tocado mas desta vez pelas
mãos do sul-africano Kristian Bezuidenhout, que apresentará em Queluz “um
repertório onde se destaca a obra do compositor Carl Philip Emanuel Bach,
assinalando assim os 300 anos do seu nascimento”. Segue-se depois um concerto
na Sala dos Embaixadores, no dia 16, preparado pela musicóloga e crítica de
música clássica do PÚBLICO Cristina Fernandes, que pretende recriar
historicamente o espírito das festas do final do século XVIII. O ciclo de
Carnaval termina com mais três concertos, o último dos quais no dia 29 de Março
a cargo do pianista Pedro Burmester, que tocará pela primeira vez num
pianoforte.
“No
meu percurso de músico sempre dei importância à recuperação do património
porque é a recuperação de identidade, e é isso que estamos a fazer aqui”,
explicou Massimo Mazzeo enquanto apresentava a programação, destacando a
importância destas obras serem tocadas no Palácio de Queluz. “O que vai
acontecer aqui é a música a ser tocada dentro do espaço para o qual foi
pensada”, disse o director artístico, para quem hoje em dia se ouvem “coisas
completamente descontextualizadas. A ideia é por isso que, em cada concerto, se
regresse à vivência total da música, recriando-se, tanto quanto possível, as
condições originais da sua primeira interpretação.
E
porque antigamente a época de espectáculos se dividia habitualmente em dois
ciclos, em Outubro a música volta ao Palácio num Ciclo de Outono com mais cinco
concertos. E aqui Mazzeo destaca o primeiro espectáculo, a 3 de Outubro, “um
concerto de referência para toda a temporada” com Midori Seiler, no violino e
Jos van Immerseel, no pianoforte. “Dois músicos que pisaram os palcos mais
importantes do mundo, estamos a falar do pico mais alto do que temos hoje em
dia na interpretação”, disse o director artístico, mencionando ainda o último
concerto, a 25 de Outubro, em que a Orquestra Gulbenkian será dirigida pelo
maestro argentino Leonardo Garcia Alarcón.
Os
preços dos bilhetes para estes concertos variam entre 15 e 20 euros, existindo
ainda dois passes especiais que permitem o acesso a todos os concertos de cada
ciclo, com preços entre os 60 e os 90 euros.
“Era
aqui que a corte se divertia e por isso tudo o que está pensado para esta
temporada faz sentido”, disse António Lamas, presidente do conselho de
administração da Parques de Sintra, empresa que gere o Palácio de Queluz,
esperando com esta iniciativa conquistar “mais e diferentes visitantes”.
“Queremos que a música se torne no principal motivo de atracção do Palácio”,
acrescentou ainda o responsável, garantido que “este é um programa para se
repetir com regularidade”. “É para se tornar um hábito.” (Jornal Público)
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